Mulheres, jovens, que se utilizam de produtos para intoxicação. Esse é o perfil da maioria dos casos de tentativa de suicídio em São Gonçalo. As três principais causas de morte entre os jovens nas Américas são evitáveis, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS): homicídios, mortes no trânsito e suicídio. No município, por mês, através da Coordenação de Saúde Mental da Secretaria de Saúde, mais de 3 mil pessoas são assistidas no Ambulatório de Saúde Mental do Posto de Assistência Médica (PAM) do Coelho, e no Ambulatório Nise da Silveira, no Zé Garoto. Por meio da escuta e do acolhimento multiprofissional, os espaços tem sido um novo caminho para aqueles que chegam achando que a vida chegou ao fim.
“A tentativa de suicídio é o último grito de socorro. Nem sempre a fala do suicídio é tão clara, mas ela aparece muitas vezes em formas de lamento, indiferença, não necessariamente são falas de morte. São falas que em um possível cenário a pessoa não se coloca existindo lá. Nosso cuidado aqui também se estende à família, porque precisamos conscientizar que a pessoa precisa de ajuda e damos as orientações. Após o acolhimento, realizamos estudos de caso e quando necessário fazemos o projeto terapêutico singular”, disse Ricardo Lobo, psicólogo, especialista em promoção da Saúde e Desenvolvimento Social, e coordenador do Ambulatório de Saúde Mental do PAM Coelho, que possui uma equipe multidisciplinar formada por psicólogos, assistentes sociais, terapeuta ocupacional, técnicos de enfermagem, médico psiquiatra, neurologista e fonoaudiólogo, atendendo o público infanto juvenil e adulto. Para o psicólogo, uma escuta ativa e a não culpabilização da vítima podem salvar vidas. “As feridas emocionais não são vistas, então é muito fácil as pessoas julgarem. É importante que esse tema seja discutido não só por nós psicólogos, mas por todos os profissionais, sobretudo da saúde. A tentativa de suicídio é um pedido de socorro. Como profissionais, o nosso olhar pode ser um meio da pessoa ter um sopro de vida ou disparar uma nova tentativa. A prevenção é dar liberdade para as pessoas falarem. No Brasil adotamos um recuo para falar sobre isso. A ausência da fala gera uma insegurança e um maior desconforto em lidar com aquilo”, afirmou Ricardo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceu a meta de reduzir em 10% os casos de mortes por suicídio até 2020. No Brasil, de 2007 a 2016, 106.374 pessoas morreram em decorrência do suicídio. Em 2016, a taxa foi de 5,8 por 100 mil habitantes. De acordo com a publicação do Ministério da Saúde, a intoxicação é responsável por 18% das mortes, enquanto o enforcamento apresenta um índice de 60% dos óbitos. Do total de ocorrências, 70% das tentativas de suicídio por intoxicação aconteceram com mulheres. Em São Gonçalo, de acordo com o Programa de Notificação de Violência doméstica, sexual e outras violências, que realiza o mapeamento das diversas formas de violência que ocorrem com os usuários da Saúde, em 2018, o município contabilizou 119 casos de tentativa de suicídio. Já neste ano, até julho, o número chegou a 204. “A importância do programa é a gente conseguir captar os casos para direcioná-los para a rede de apoio, para que a tentativa não se concretize. Para que a gente consiga chegar a tempo e essa pessoa seja acolhida o mais rápido possível pela rede de apoio. Essa notificação não pode passar despercebida, elas precisam ser acolhidas!”, ressaltou Fabíola Rodrigues, coordenadora do Programa.
Assim como o PAM Coelho, o Ambulatório Nise da Silveira é um ambulatório ampliado de saúde mental, que também realiza o acolhimento de pessoas em sofrimento psíquico. Só no último mês a unidade acolheu mais de 1800 pessoas. O público chega por demanda espontânea ou encaminhado pelas unidades de saúde. “Muitas pessoas chegam aqui muito machucadas, fragmentadas e atravessadas por muitas questões. Com uma estrutura frágil na maioria das vezes. Todos que chegam ao ambulatório com caso de tentativa de suicídio, nosso movimento como profissionais é de profundo respeito. Na terapia e no acolhimento, a gente vai atuar ofertando principalmente uma escuta ampliada, mostrando que existem outras possibilidades”, destacou Flávio Ramos Pereira , psicólogo e coordenador do ambulatório, que atua desde 2007 no programa de saúde mental.
Na última segunda-feira (2), o coordenador da Ronda Ostensiva Municipal (Romu), Wagner, se viu diante de uma possibilidade de salvar uma vida. Uma mulher, na beira do Viaduto de Alcântara, ameaçava se jogar. Junto a sua equipe, ele não pensou duas vezes quando viu a possibilidade, de forma segura, de ajuda-la. “A gente tava em serviço na área do Alcântara quando uma pessoa veio falar com a gente que tinha alguém no viaduto que estava chorando muito e parecia que ia tentar pular. Fiquei olhando pela lateral da ponte e confirmei que ela estava lá. Pegamos a viatura e fomos até ela, desligamos a sirene e fomos encostados à lateral da ponte bem devagar, para que ela não notasse e se assustasse. Fiquei com receio de me aproximar, mas ao mesmo tempo eu precisava me aproximar dela. Eu percebi quando chegamos perto que ela mantinha os olhos o tempo todo para baixo, quando o carro chegou bem perto eu aproveitei, saí do carro rapidamente e abracei ela pelas costas e impedimos que pulasse. Ela se debatia muito, estava muito consternada. Acionamos o Corpo de Bombeiros, enquanto isso eu conversei com ela e tentava acalma-la. Dizia para não fazer aquilo e o quanto a vida dela é importante!”, relembrou emocionado.
Para a coordenadora de Saúde Mental do município, Cida Lobosco, uma escuta qualificada também é uma forma de prevenção. “Uma escuta acolhedora e com empatia pode mudar a vida de alguém. Geralmente quem pensa em pôr fim a um sofrimento tende a se isolar, então a oportunidade de ser escutado em si já é uma prevenção! ” , afirmou.
SERVIÇO
Agenda Setembro Amarelo
USF Trindade
06/09 – Prevenção ao suicídio
USF Agenor José da Silva
09/09 – Roda de Conversa
USF Venda da cruz
10/09- Palestra sobre depressão e suicídio: Vale a pena viver
USF Mutondo
11/09 – Palestra e roda de conversa de prevenção ao suicídio
USF Bocayva Cunha
16/09 – Roda de conversa sobre prevenção ao suicídio: Repensando a vida
USF João Goulart
19/09 – Palestra e roda de conversa
USF Irmã Dulce
19/09 – Roda de conversa sobre Prevenção ao Suicídio
Polo Hélio Cruz
19-09 – Palestra: Suicídio: como a vida se torna descartável?
Clínica Municipal do Mutondo
20/09 – Palestra do CVV para os funcionários
23/09 – Palestra Prevenção ao Suicídio
USF Tancredo Neves
24/09 – Roda de Conversa
USF Jardim Catarina V
25/09 – Roda de conversa
Clínica da Família Doutor Zerbini
26/09 – Atividades de conscientização sobre Suicídio
USF Ana Nery
26/09 – Palestra: Conversando sobre prevenção ao suicídio
USF Jardim Catarina VII
26/09 – Roda de conversa
Polo Jorge Teixeira de Lima
26/09 – Roda de conversa e palestra