O índice de gravidez na adolescência no Brasil corresponde a 62 casos a cada mil adolescentes entre 15 e 19 anos, maior que a taxa mundial, que corresponde a 44 para cada grupo de mil. No município de São Gonçalo, em 2019, dos mais de cinco mil partos realizados na Maternidade Municipal Mario Niajar, em Alcântara, 678, ou seja, 12%, foram desta faixa etária. Por trás dos números, políticas públicas de educação em saúde e acompanhamento dos casos, através da Secretaria Municipal de Saúde, garantem a essas adolescentes e suas famílias um atendimento humanizado em São Gonçalo.
“Nosso município não possui altos índices de casos de gravidez na adolescência. O Ministério da Saúde preconiza em 17% o índice de gravidade, o nosso é de 15,4%. Menores de 15 anos possuem um fator bem grande de risco pois o organismo da adolescente ainda está se formando. Entretanto, para além da idade, há muitos fatores que definem o que é uma gravidez de risco, como a desnutrição, obesidade, dentre outros. Aqui no setor de alto risco temos uma equipe multidisciplinar formada por psicólogo, endocrinologista, cardiologista e obstetra. Esse acompanhamento é fundamental! Grande parte das adolescentes acreditam que a gravidez ou uma infecção sexualmente transmissível nunca vai acontecer com elas, então é fundamental que a informação e o cuidado chegue a toda população!”, destacou a ginecologista e obstetra, Jaqueline Passos Moreira, que coordena o pré-natal de alto risco, na Clínica Municipal do Mutondo, que em janeiro deste ano acolheu 22 casos de adolescentes de 12 a 16 anos com gravidez de alto risco.
Para a assistente social do Polo Hélio Cruz, no Alcântara, Michele Figueiredo Paula, a prevenção da gravidez na adolescência traz incutida também discussões acerca do inicio de uma vida sexual muito precoce e sem orientações ou diálogos necessários. Para ela, é preciso ouvir os adolescentes através de uma comunicação horizontal, que envolva a família, amigos e toda a comunidade que o cerca. No Polo e em todas as unidades de saúde, são realizados encontros regulares de planejamento familiar, onde pautas como direitos sexuais e reprodutivos são discutidas junto aos adolescentes e suas famílias. “A adolescência é uma fase de muitas mudanças e descobertas. Essas mudanças de ordem biológicas, psicológicas e sociais precisam ser visíveis para os espaços públicos onde circulam os adolescentes e seus familiares. Torna-se complexo, ou mesmo complicado, responsabilizarmos apenas as famílias por essa discussão quando, na maioria dos casos, as mesmas não aprenderam a falar de sexualidade ou a reconhecer o próprio corpo e encontram-se imersos nas suas vivências e experiências particulares. A experiência de trabalho com os grupos educativos de planejamento familiar no Polo Sanitário Hélio Cruz, vem demonstrando que adolescentes do sexo masculino e feminino iniciam práticas sexuais sem conhecer o próprio corpo. Assim como, a adesão de participantes do sexo feminino permanece superior. Somente a partir da ampliação dessa discussão caminharemos com vistas a garantir que os adolescentes possam vivenciar a sua sexualidade de forma segura e saudável!”, disse. Anterior à gravidez, pensar os fatores de risco como infecções sexualmente transmissíveis é também fundamental. Desde 2009, por meio de uma nota técnica do Ministério da Saúde, todas as unidades do Sistema único de Saúde (SUS) disponibilizam o acesso a preservativos sem a necessidade de receita ou identificação prévia. A estudante Jennyfer Adrielly, de 14 anos, grávida de oito meses, é assistida pela equipe de Gravidez de Alto Risco. Ela conta que a gravidez não foi planejada e acreditou que não usar camisinha não teria algum tipo de risco. “Eu e o meu namorado não usamos camisinha, mas eu não achei que fosse acontecer algo comigo, nem doença, nem gravidez. Quando eu descobri a minha mãe ficou desesperada e meu pai também, mas hoje eles me apoiam, e o meu namorado também está comigo. Eu faço meu pré-natal aqui na Clínica desde o início da gravidez, nunca tive nenhum problema. Só agora que estou tendo um pouco de pressão alta, mas tem sido tudo bem!”, disse a adolescente que é moradora do bairro Tribobó. Para a coordenadora do Programa Municipal de Ist/Aids, Evelin Mendonça, é fundamental falar e promover o diálogo sobre o uso do preservativo com os adolescentes. Atualmente o programa acompanha 32 gestantes adolescentes com sífilis e seis com HIV. “O uso do preservativo é imprescindível. A falta do uso é um risco não só de gravidez, mas das infecções sexualmente transmissíveis. É preciso deixar claro que o preservativo não é somente para evitar uma gravidez indesejada, mas evitar doenças. Temos hoje em São Gonçalo muitos jovens na faixa de 17 a 19 anos com HIV, portanto é fundamental que esse debate chegue até eles!”, ressaltou.