O Rio de Janeiro é, entre os estados das regiões Sudeste e Sul, o que apresenta, em 2020, a estimativa de maior taxa bruta de câncer de próstata: 78,42 casos para cada 100 mil homens. Os cálculos do Instituto Nacional de Câncer (Inca) revelam ainda que, se forem levados em consideração apenas os dados da capital fluminense, esta relação sobe para 88,06 casos a cada 100 mil. Números que tornam o câncer de próstata o tipo de maior incidência no estado, sem contar o de pele não melanoma, e fazem com que o alerta feito pelo Novembro Azul sobre a saúde masculina seja ainda mais necessário no estado. “Não há estudos científicos que expliquem esta alta incidência no Rio de Janeiro. Provavelmente tem relação com o perfil genético de nossa população. A estimativa reforça a importância do Novembro Azul e da prevenção. O câncer de próstata é extremamente silencioso. Os sintomas só aparecem quando a situação é grave. Se levarmos em conta que, quando precocemente diagnosticado, 90% dos casos podem ser resolvidos, a conscientização da população torna-se ainda mais importante”, afirma Rodrigo Frota, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia – Rio de Janeiro (SBU-RJ). Em 2020, o Novembro Azul enfrenta um desafio a mais: entre 15 mil e 17 mil brasileiros deixaram de receber diagnóstico de câncer de próstata durante a pandemia da Covid-19 em todo o país. O cancelamento de consultas, exames e cirurgias está entre as principais causas para esse cenário, aliado ao medo dos próprios pacientes em procurar atendimento diante do coronavírus. A falta de informação, no entanto, não reduz números reais: a estimativa é que, apenas este ano 65.840 novos casos que afetam a próstata surjam. “A Covid-19 gerou mais vítimas além das que sofrem os efeitos diretos do vírus. Isso é extremamente preocupante porque o diagnóstico precoce é fundamental para o sucesso do tratamento”, afirma Frota.
A estimativa foi calculada pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) e pela Sociedade Brasileira de Patologia (SBP) com base nos principais serviços de referência do país, nas redes pública e privada. De acordo com a pesquisa, houve uma queda de 70% das cirurgias oncológicas e de até 90% das análises de biópsias entre os meses de março e outubro. Quando identificados no início, 90% dos casos de câncer de próstata podem ser curados. Mesmo assim, um em cada quatro pacientes ainda morre devido à doença. No Brasil, de acordo com Inca, o câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens (atrás apenas do de pele tipo não-melanoma). A demora no diagnóstico pode levar a uma epidemia de casos identificados já numa fase grave. Apesar do grande enfoque dado à conscientização sobre o câncer de próstata, o Novembro Azul tem como objetivo chamar atenção também para outros problemas que rondam a saúde masculina. De acordo com a SBU-RJ, é fundamental uma abordagem integral de todas as doenças que mais afetam a população masculina já que os homens brasileiros vivem, em média, 7,2 anos a menos que as mulheres. São eles que mais sofrem com doenças do coração, câncer e maiores taxas de diabetes, colesterol e pressão arterial.
PRÓSTATA: A próstata, uma glândula que só o homem possui, é do tamanho de uma castanha e está localizada abaixo da bexiga. Tem como principal função, a produção de uma secreção que nutre e transporta os espermatozoides. A próstata está, no entanto, suscetível a três doenças: prostatite (inflamação), hiperplasia prostática benigna – HPB (crescimento benigno) – e câncer. Este último não costuma apresentar sintomas em fases iniciais. E é justamente nesta etapa que, caso seja diagnosticada, a dença apresenta 90% de cura. Quando surgem os sintomas como vontade frequente de urinar e sangue no sêmen, o paciente já se encontra em uma fase mais avançada. Para que o diagnóstico precoce seja feito, a recomendação é que os homens, mesmo aqueles que não apresentam sintomas, façam exames específicos a partir dos 50 anos de idade. Os pacientes que fizerem parte de grupos de risco, raça negra ou com parentes de primeiro grau com câncer de próstata, devem iniciar a prevenção ainda mais jovens.
A ORIGEM DO NOVEMBRO AZUL: O movimento surgiu em 2003, em Melbourne, na Austrália, quando dois amigos (Travis Garone e Luke Slattery), que estavam em um bar tomando uma cerveja e falando sobre tendências da moda que haviam desaparecido, resolveram lançar uma campanha sobre a saúde masculina e o câncer de próstata. Eles foram inspirados pela mãe de um amigo em comum que arrecadava fundos para combate ao câncer de mama.Os dois resolveram cultivar bigodes para chamar atenção para o movimento e recrutaram 30 colegas dispostos a aderir. Nos anos seguintes, o movimento que ganhou o nome de Movember, junção das palavras moustache (bigode) e november (novembro), explodiu chamando atenção em todo o mundo para a saúde do homem. No Brasil, a campanha chegou em 2008 e é chamada Novembro Azul, numa correlação com o movimento feminino Outubro Rosa. Foto/Divulgação: Rodrigo Frota