Diretores do PB Colégio e Curso falam do impacto do uso excessivo de celulares no ensino
Quem se lembra de como era o processo para enviar uma mensagem antes da era digital? Escrever uma carta, colocá-la no correio e esperar dias pela resposta. Hoje a comunicação virou um jogo rápido de áudios de 30 segundos ou vídeos de 15 segundos. Se o tempo de espera parecia interminável, agora a paciência parece ser uma virtude em extinção. As redes sociais com seus conteúdos instantâneos e com validade curta, além dos áudios acelerados, contribuem para um ritmo frenético que pode ser muito mais prejudicial do que parece.
Esse imediatismo não é só uma questão de conveniência. A exposição contínua às telas e a necessidade constante de respostas rápidas estão ligadas a um aumento na ansiedade, síndrome do pânico e até depressão, problemas que estão se tornando cada vez mais comuns entre crianças e adolescentes.
Colégio proíbe uso de celulares em suas dependências
No PB Colégio e Curso, não tem discussão, celular não entra. Durante todo o horário escolar, os celulares são terminantemente proibidos. Tudo começou em 2011, no pré-vestibular, hoje, todas as unidades, inclusive as que também atuam como colégio o uso continua vetado. Para isso, assim que os alunos entram, seus dispositivos são recolhidos e só são devolvidos ao final do dia, sem acesso mesmo durante os intervalos.
“A decisão de proibir o uso de celulares tem trazido resultados muito positivos. Os alunos mostram maior concentração e participação em sala de aula, além de desenvolverem melhor suas habilidades de escrita e leitura. A interação entre eles é diferente, nos intervalos eles não ficam olhando as redes sociais, eles conversam entre si, trocam sobre a vida e os estudos.”, explica Valma Souza, diretora do PB Colégio e Curso.
Hugo de Almeida, também diretor da instituição acrescenta: “Temos visto um impacto direto no comportamento e nas notas dos alunos e isso não é de hoje, foi um trabalho construído ao longo dos anos. Muitos dos nossos alunos se destacam em vestibulares altamente concorridos, como ITA e IME, e em cursos de medicina nas universidades mais disputadas. As pontuações nas redações do ENEM também são excelentes, refletindo a eficácia da nossa abordagem.”
“Como tudo na vida, temos dois lados, o bom e o ruim, mas cabe a nós, decidirmos a forma de utilizar”, diz Valma que reconhece a importância da tecnologia, mas também destaca os desafios que ela apresenta: “É inegável que a tecnologia traz inúmeros benefícios e facilidades, mas também é necessário reconhecer os problemas que surgem com o uso excessivo. A ansiedade entre os jovens está aumentando devido ao imediatismo das redes sociais e à pressão por respostas rápidas. Isso afeta a capacidade de concentração e a paciência, essenciais para o desenvolvimento acadêmico.”
Hugo de Almeida também chama a atenção para as redações. “Temos visto como a falta de paciência e o desejo por gratificação instantânea têm impactado negativamente a habilidade dos alunos em escrever de forma estruturada e reflexiva. Para provas como a do ENEM, onde a redação é uma parte importantíssima, é fundamental ter a capacidade de explorar temas complexos e sociais. Essa habilidade não é algo que se desenvolve com a leitura rápida de posts em redes sociais.”
A importância da leitura e da escrita
A redação do ENEM, por exemplo, aborda causas sociais e temas relevantes para a sociedade, exigindo uma compreensão profunda e uma capacidade de argumentação bem desenvolvida. O conteúdo das redes sociais não fornece a base necessária para escrever sobre esses temas de forma substancial.
“Para escrever uma boa redação, é necessário buscar conteúdo de qualidade e fontes seguras. A leitura de livros, seja em formato físico ou digital, oferece uma perspectiva mais ampla e um conhecimento mais profundo, essenciais para formar argumentos bem fundamentados. Você pode utilizar as redes sociais, assistir a podcasts, vídeos com conteúdo mais robustos e de qualidade podem ajudar na redação.”
Dicas para estimular a leitura e a escrita
Valma e Hugo trouxeram algumas dicas para os pais ajudarem crianças e adolescentes a se prepararem para um futuro acadêmico, mesmo em um mundo digital:
Estabeleça limites de tempo: Defina horários específicos para o uso de dispositivos eletrônicos e promova atividades offline durante o restante do tempo.
Crie rotinas de leitura: Introduza um horário diário para a leitura de livros, revistas ou jornais. Escolha materiais que interessem aos jovens.
Promova a escrita criativa: Incentive a escrita de histórias, diários ou cartas para amigos e familiares, sem recorrer ao digital.
Participe ativamente: Envolva-se nas atividades de leitura e escrita com seus filhos ou alunos. Transforme isso em um momento compartilhado e prazeroso.
Ofereça recompensas: Crie um sistema de recompensas para metas de leitura e escrita alcançadas, incentivando a motivação e o prazer pela atividade.
Seja um modelo: Mostre o valor da leitura e escrita em sua própria vida. Pratique esses hábitos e demonstre sua importância.
Ambiente adequado: Crie um espaço calmo e livre de distrações para que os jovens possam se concentrar na leitura e na escrita.
Discussões sobre conteúdo: Converse sobre o que foi lido após a leitura, estimulando a reflexão e o pensamento crítico.
Utilize recursos didáticos: Explore recursos educacionais interativos que promovam a escrita e a leitura de forma envolvente.
Incentive clubes de leitura: Se possível, envolva os jovens em clubes de leitura ou grupos de escrita para promover a troca de ideias e experiências.
Adotar essas estratégias pode ajudar a equilibrar o uso de tecnologia com o desenvolvimento de habilidades essenciais para enfrentar os desafios acadêmicos e profissionais, garantindo que as novas gerações estejam bem preparadas para um futuro melhor.
Fonte: Adriana Hercowitz