Alexandra Lima da Silva, doutora em Educação e professora de História da Educação na Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), reúne narrativas de negros que foram escravizados nos Estados Unidos em seu livro, “Flores de Ébano – Escrita de si como prática de liberdade”. A obra apresenta relatos de vida, em primeira pessoa, de homens e mulheres que foram submetidos à condição de escravos antes da abolição oficial da escravatura no país.
O projeto, rico em documentos originais e ilustrações do período, retrata as fugas, as denúncias de violência, a força da fé, a importância da educação e da escrita, e o ativismo desses personagens. A autora também se preocupa em analisar a recepção dessas histórias no Brasil em diferentes momentos, como as suas contribuições para jornais abolicionistas da época, durante o centenário da abolição e no debate de ações afirmativas no século 21. O livro discute ainda a recepção dessas obras no mercado editorial brasileiro.
“Nos EUA, esse gênero literário, conhecido como Slave Narratives, se popularizou como um nicho no mercado editorial. Aqui no Brasil, também tivemos a produção de autobiografias por afrodescendentes escravizados em outros meios, principalmente manuscritos, mas esse gênero não se difundiu, pois houve a proibição da impressão de livros por parte da Coroa portuguesa e, depois da Independência, não houve interesse dos editores brasileiros em investir nesse tema, explica Alexandra.
Nesse contexto, “Flores de Ébano” busca dar destaque a nomes pouco conhecidos, principalmente mulheres negras escravizadas. Entre elas, Anna Julia Cooper, que viveu como escrava na infância e foi uma das primeiras mulheres aceitas no doutorado da Sorbonne, na década de 20; e Lily Granderson, que arriscou sua vida para educar outras cativas, clandestinamente.
“O objetivo dessa pesquisa é ser semente, no sentido de ajudar a popularizar os caminhos para pesquisas em acervos sobre o tema. Que esse livro seja usado como ferramenta didática em salas de aula e como material de apoio na área de Educação, ajudando a restituir a mulheres e homens escravizados o direito à memória por meio de suas escritas. Que esses autores sejam reconhecidos a partir do prisma da intelectualdide”, resume a professora.
Uma das figuras notáveis retratadas na pesquisa é Frederick Douglass, escritor que fugiu dos EUA para a Inglaterra e lá conseguiu juntar dinheiro vendendo sua história sobre a experiência como escravizado. Outro exemplo proeminente é Nat Turner, escravo que liderou uma revolta no Condado de Southampton, na Virgínia, em 1831, que resultou na morte de mais de 50 pessoas brancas e 200 negras.
Lançado pela Kitabu Livraria Negra e Editora, “Flores de Ébano – Escrita de si como prática de liberdade” foi realizado com financiamento do programa Jovem Cientista do Nosso Estado, da Faperj. Para concluir a pesquisa, Alexandra percorreu pessoalmente bibliotecas e acervos nos Estados Unidos para estudar autobiografias de afrodescendentes escravizados durante seu estágio pós-doutoral, feito na Universidade de Illinois, com auxílio de uma bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). O livro acompanha uma exposição virtual interativa, que pode ser acessada através do site http://floresdeebanoexposicao.
O lançamento de “Flores de Ébano” acontece no dia 30 de novembro, às 18h, na Livraria EdUerj, no Campus Maracanã.