unnamed

Grace Gianoukas. Fotos/Divulgação: Heloísa Bortz

Espetáculo traz Grace Gianoukas, vencedora dos prêmios APCA e SHELL (2024), de melhor atriz, e I Love PRIO (2024), de melhor performance; e o diretor Kiko Rieser, vencedor do Prêmio Bibi Ferreira, de melhor dramaturgia original (2023). Com voz off de Miguel Falabella, o monólogo presta homenagem a Dercy Gonçalves, artista que rompia padrões e inaugurou uma representação genuinamente brasileira em nossos palcos

 

O premiado monólogo “Nasci pra ser Dercy”, estrelado por Grace Gianoukas e escrito e dirigido por Kiko Rieser, presta uma homenagem a Dercy Gonçalves, uma das maiores atrizes do século 20. Desde a estreia, há dois anos, o espetáculo é enorme sucesso de crítica e público – visto por mais de 40 mil pessoas – por todas as cidades em que passa com sua turnê nacional. E, chega ao palco do Teatro GayLussac no dia 15 de março (sábado) para três apresentações.

Grace Gianoukas foi vencedora dos prêmios SHELL e APCA de melhor atriz (2024), I Love PRIO do Humor, de melhor performance, e Kiko Rieser vencedor do Prêmio Bibi Ferreira (2023), na categoria Melhor Dramaturgia Original, por “Nasci pra ser Dercy”. O espetáculo, produzido pela Ventilador de Talentos, ainda foi indicado ao Prêmio Cenym de melhor monólogo, e prêmio Miguel Arcanjo, melhor direção, peça e atriz.

 

Grace Gianoukas. Fotos/Divulgação: Heloísa Bortz

Assim como Dolores

Quando eu nasci, o Brasil já gargalhava com Dercy Gonçalves. À medida que eu fui crescendo, fui assistindo a seus trabalhos no cinema, na TV, suas participações memoráveis nos programas de auditório… No final dos anos 80, a partir de uma sugestão da atriz Christiane Tricerri, fui convidada pelo Jornal da Tarde para, ao lado de outras atrizes comediantes, assistir ao show de Dercy no teatro e conversarmos com ela no final. Foi ótimo! Ela nos tratou com muito carinho e disse uma coisa que eu nunca mais esqueci: “Evitem ficar tirando a roupa em qualquer trabalho. Enquanto vocês são jovens, muitas vezes a nudez é só exploração da imagem feminina, é só chamariz, não tem nada de arte. Deixem pra ficar nuas quando tiverem a minha idade. Uma velha nua é uma transgressão, traz questionamento, e isso é arte.”

Convivi com várias mulheres de sua geração e sei dos horrores de moralismo, machismo e opressão social que elas passaram, e por isso admiro Dercy profundamente, pela força, inteligência, empreendedorismo e extraordinário talento como atriz, autora e produtora.

O convite de Kiko Rieser para atuar em “Nasci pra ser Dercy” me trouxe uma grande oportunidade de pesquisar e conhecer melhor Dolores Gonçalves Costa, que, assim como eu, nasceu numa cidade do interior, onde muitas vezes se sentia extremamente deslocada e incompreendida. No entanto, ao contrário de mim, que sempre tive o apoio da minha família, ela teve que enfrentar o mundo sozinha, sem nenhuma orientação, amparada apenas pela força de sua alma em expansão. Essa alma, guiada pelo seu desejo de liberdade e conhecimento, ela batizou como Dercy Gonçalves, uma grande guerreira que transformou sua dor em alegria para o povo brasileiro. 

Grace Gianoukas, atriz

A avó de todos nós

Quando criança, eu queria que Dercy fosse minha avó. Dito isso em voz alta, minha avó Daisy ficou ofendidíssima, ou ao menos fingiu que ficou, como se eu quisesse substituí-la. Na minha cabeça – e foi isso que respondi – a coisa era simples: tendo apenas uma avó, havia ainda um outro posto vago, que poderia ser ocupado por aquela velhinha que me encantava com sua autenticidade e seu despudor em soltar verdades e palavrões conforme lhe vinham à cabeça. Acho que nunca havia visto até então, como tampouco vi depois, uma pessoa tão autêntica quanto Dercy Gonçalves. Faço parte da última das diversas gerações que Dercy atravessou e influenciou em 101 anos de uma vida intensa e prolífica, e é claro que descobrir uma senhora emplumada no alto de seus 90 anos mandando “tomar no cu” quem lhe desse na telha e se dirigindo ao presidente da República com um “ô, cara” tinha um sabor especial de transgressão. O estigma da “velha louca que fala palavrão” me fascinou. 

Mais tarde descobri como essa definição é redutora, e até mesmo falsa, porque de louca Dercy não tinha nada. Pelo contrário, tinha consciência e método de sobra. Só depois que escolhi o palco como ofício, me deparei com a imensa importância que ela teve para o teatro e a autonomia das mulheres. Podemos dizer sem risco de exagero que Dercy revolucionou o teatro brasileiro. Das tantas faces dessa atriz colossal, a maioria segue desconhecida pelo país. Hoje, 17 anos após sua morte, acho escandaloso que ainda não tenha havido uma obra dedicada a ela na arte à qual ela dedicou toda sua existência: o teatro. “Nasci pra ser Dercy” é uma homenagem, mas também um resgate histórico e um alerta para que a memória da cultura brasileira não se perca, para que saibamos sempre quem são as pessoas que vieram antes de nós e, assim como nossas avós, pavimentaram o caminho para que hoje sejamos quem somos. Obrigado, Dercy!

Kiko Rieser, autor e diretor

Dercy Gonçalves

Dercy Gonçalves (23/06/1907–18/07/2008) faleceu há 17 anos, aos 101 anos, sem que jamais tenha havido nos palcos brasileiros uma peça que a homenageasse. Até agora! 

O texto busca unir o apelo popular e o carisma de Dercy através de uma profunda pesquisa, a peça mostra a importância, muitas vezes ignorada, da atriz para o teatro brasileiro e para a liberdade feminina, bem como sua inquestionável singularidade. 

Desbocada e defensora da mais profunda liberdade, era muito recatada em sua vida íntima, chegando a se casar e enviuvar anos depois ainda virgem. Contestava frontalmente a censura da ditadura militar, mas se recusava terminantemente a levantar bandeiras políticas específicas que não fossem a da irrestrita liberdade e do respeito a todas as formas de existir.

 

A atriz se consagrou como vedete do Teatro de Revista, mas sua maior contribuição ao nosso teatro se deu ao levar essa expertise para a comédia popular, que ela revolucionou inteiramente, trazendo textos fundamentais para o Brasil e instaurando uma nova forma de interpretar, que rompia com todos os padrões e inaugurou em nossos palcos uma representação genuinamente brasileira. Amada por quase todo o país, Dercy Gonçalves é uma figura largamente reconhecida, mas pouco conhecida de fato. 

“Dercy Gonçalves é retratada quase sempre como apenas uma velha louca que falava palavrão”, fala Kiko Rieser, que no texto procura revelar ao público a mulher grandiosa e complexa que ela foi. “Uma atriz vinda do teatro de revista que recriou a comédia brasileira. Uma mulher que era chamada de ‘puta’, mas que casou e enviuvou virgem, iconoclasta e devota, libertária, mas avessa a qualquer bandeira, inclassificável e singular”, completa o autor.

Sinopse

A peça começa com uma atriz, Vera, entrando no estúdio para fazer teste para o papel de Dercy Gonçalves em um filme. Conforme vai dando suas falas, ela se revolta contra o roteiro, cheio de estereótipos. Sua mãe era grande fã de Dercy e por isso Vera cresceu conhecendo e sendo influenciada pelo exemplo dessa artista icônica. Ela então, transformando-se em Dercy, começa a mostrar quem realmente foi essa mulher à frente de seu tempo.

SERVIÇO

‘Nasci pra ser Dercy’

Local: Teatro GayLussac – Rua Coronel João Brandão, 87 – São Francisco – Niterói/RJ

Datas: 15, 16 e 23 de março

Horário: sábado, às 20h; domingos, às 18h

Classificação: 14 anos

Ingressos: R$ 120 (inteira); R$ 60 (meia, de acordo com a lei de meia entrada)

Informações e vendas: https://ventiladordetalentos.com.br  

e/ou https://bileto.sympla.com.br/event/103580

bilheteria física, no próprio Teatro, nos dias das apresentações a partir das 16h

Duração: 80 minutos

Capacidade: 200 lugares, sendo 4 reservados a PCD

 

FICHA TÉCNICA – ‘Nasci pra ser Dercy’

Texto e direção: Kiko Rieser

Atriz: Grace Gianoukas

Voz off: Miguel Falabella

Diretor de Produção: Paulo Marcel

Técnico de luz: Jânio Silva

Técnico de som: Éder Sousa

Contra regra/camarim: Venício Alvarenga

Cenário e figurino: Kleber Montanheiro

Desenho de luz: Aline Santini

Trilha sonora original e arranjos: Mau Machado

Canção-tema “Só sei ser Dercy”: Danilo Dunas e Pedro Buarque

Visagismo: Eliseu Cabral

Assistência de direção: André Kirmayr

Preparação corporal: Bruna Longo

Preparação vocal: André Checchia

Assistência de figurino: Marcos Valadão

Cenotécnica: Evas Carreteiro

Design gráfico: Pierre da Rosa

Assessoria de imprensa: Benu Comunicação

Mídias sociais: Pierre da Rosa

Fotos: Heloísa Bortz (estúdio) Priscila Prade (cenas/palco)

Assessoria jurídica: Dr. Sérgio Almeida

Realização e Produção Nacional: Ventilador de Talentos

Produção associada: Rieser Produções

 

Fonte: Fernanda Martins

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *