Evento colocou Niterói como sede do debate sobre futuro do bioma costeiro no país
Durante quatro dias, Niterói foi sede de intensas discussões sobre o futuro dos manguezais fluminenses e de toda a costa brasileira. Com palestras, painéis, debates e apresentações culturais, o Congresso Nacional de Manguezais (ConMangue), que terminou nesta quinta-feira (20), foi espaço de aprendizado e trocas sobre pesquisas, políticas e melhores práticas relacionadas ao importante bioma dos litorais.
O prefeito de Niterói, Axel Grael, destacou que o Programa de Despoluição da Baía de Guanabara tinha uma rubrica de recuperação de manguezais que nunca avançou.
“Enquanto as pessoas discutiam o que iam fazer, várias áreas de mangue do país foram se recuperando sozinhas, já que a capacidade de regeneração dos manguezais é muito forte. Desde que a gente não atrapalhe, não interfira no substrato, não desmate, o mangue vai voltando. Os mangues também evitam um dos problemas mais difíceis de se resolver, como o assoreamento. Gostaria de reforçar que Niterói está à disposição para uma próxima edição desse evento, para ajudar a levar essas ideias adiante, a fazer com que o desdobramento do que foi discutido aqui tenha continuidade”, afirmou Axel Grael”.
Em parceria com a Rede Nacional de Manguezais (Renamam), palestrantes nacionalmente reconhecidos de ao menos nove estados estiveram em Niterói e participaram dos debates na Sala Nelson Pereira dos Santos. O evento produzido pela ONG Guardiões do Mar, com o apoio da Prefeitura de Niterói, contou com a presença do cantor e ativista ambiental Lenine; Alexander Turra, da Unesco; Alaildo Malafaia, da Cooperativa Manguezal Fluminense; o coordenador Nacional da Confrem, Flávio Lontro; Paulina Chamorro, da Liga das Mulheres pelos Oceanos; e Tatiana Alves, da APA de Guapimirim.
O administrador regional da Região Oceânica de Niterói, Binho Guimarães, ressaltou que sediar o evento foi uma oportunidade importante para a cidade.
“Uma honra receber o evento. Daqui sairão reflexões importantes não só para o presente, mas sobretudo para o futuro. Os manguezais são biomas importantes da nossa cidade. Por isso, na Região Oceânica, realizamos ações de cerceamento de espécies, limpeza das áreas de mangue com estudantes da rede municipal, o que reforça a educação ambiental. Esse evento foi mais um passo que mostra que Niterói está preservando os mangues da nossa cidade e dando explemplo para todo país”, disse Binho Guimarães.
O primeiro ConMangue recebeu o Selo Prima Consciência Climática. A certificação de neutralização de carbono é resultado de um levantamento de todas as emissões de gases que contribuem para o efeito estufa previstas durante o evento, bem como garante, a partir de um cálculo seguro, a compensação ambiental do carbono emitido. Para reduzir os impactos gerados pelos quatro dias de vento, a ONG Guardiões do Mar plantará mudas de mangue em uma área de um hectare da Área de Proteção Ambiental (APA) de Guapimirim.
O coordenador-geral do Projeto Do Mangue ao Mar, Pedro Paulo Belga, lembrou que a ONG foi criada para provar que a Baía de Guanabara estava viva. Ele agradeceu à Prefeitura de Niterói por ter recebido o ConMangue.
“A intenção deste congresso foi juntar nesses quatro dias a academia, o poder público, as unidades de conservação, as ONGs e os povos da pesca. Acho que daqui saíram grandes ideias, porque estamos trabalhando e falando com todos que vivem no manguezal e do manguezal. A oportunidade de poder contar com essa Sala (Nelson Pereira dos Santos) de ótima estrutura, acolheu muito bem a todos”, explicou Pedro Paulo Belga.
Foi consenso entre os participantes que o Dia Mundial de Proteção aos Manguezais, celebrado em 26 de julho, será a principal data para impulsionar ações em todo o planeta em prol da proteção ambiental desse ecossistema. O Brasil abriga uma das maiores extensões de manguezais do mundo, que foram relegados historicamente. Especialistas estimam que 25% das áreas originais de manguezal no país já tenham sido suprimidas desde o início do século 20, segundo o Atlas dos Manguezais do Brasil, publicado em 2018 pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), do Ministério do Meio Ambiente. As florestas de mangue estão desaparecendo de três a cinco vezes mais rapidamente do que as perdas globais de florestas.