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O superintendente operacional da Secretaria de Estado da Defesa Civil, coronel Alexandre Silveira; vice-diretor da ROER, Fábio Hoelz, e o radioamador voluntário, Rafael Jerônymo. Foto/Divulgação: Luiz Alvarenga

Integrantes da corporação, que reconhecem a importância dos voluntários na atividade, não têm dúvidas de que as ações imediatas em parceria com a Defesa Civil, evitaram ainda mais mortes no município
Quando todos os modernos recursos convencionais de comunicação entram em colapso, seja por problemas técnicos ou falta de energia, o radioamadorismo “fala mais alto”. E salva vidas. Em Petrópolis, na Região Serrana, a atuação de 53 radioamadores voluntários da cidade foi fundamental nas primeiras 48 horas da tragédia causada por temporal no último dia 15, quando quedas de barreiras e enchentes devastaram a cidade, deixando mais de 200 mortos e dezenas de desaparecidos.
Com energia comprometida nos dois primeiros dias na maioria das áreas atingidas, o que impediu o acesso a internet, celulares e, consequentemente, às redes sociais, a rádio transmissão foi a saída para se estabelecer a comunicação entre bombeiros, moradores e servidores públicos. 
Bases foram montadas no 15°GBM (Petrópolis) e no Gabinete Integrado de Gestão de Desastres, instalado no Colégio Estadual D. Pedro II, com transmissões para outras bases comunitárias e bases móveis. Estações portáteis também foram instaladas no Instituto Médico Legal (IML) e no Hospital Municipal Alcides Carneiro.
O superintendente operacional da Secretaria de Estado de Defesa Civil  (Sedec-RJ), coronel Alexandre Silveira, diz que não há como precisar, mas não tem dúvidas de que a ação imediata dos integrantes da Rede de Operações de Emergência de Radioamadores (ROER) de Petrópolis, em parceria com a corporação, ajudou a salvar vidas.
– Temos total consciência que o apoio dos radioamadores, solicitados por nós logo no início do caos que se instalou, contribuiu para salvamentos, pois eram os únicos, de forma organizada, capazes de estabelecer algum tipo de comunicação com nossos bombeiros, lideranças comunitárias e servidores públicos, que iniciaram os atendimentos emergenciais às vítimas – afirma Silveira.
Cadastrados em 172 pontos do estado, os radioamadores passaram a integrar a rede oficial de informações da Defesa Civil e Corpo de Bombeiros e a receber treinamentos. Nos cursos, aprendem a como proceder diante de calamidades, seja relacionada a chuva, fogo ou estruturas de imóveis colapsados, por exemplo.
Vice-diretor da ROER, o militar da reserva Fábio Hoelz justifica a importância da parceria com o Corpo de Bombeiros. De acordo com ele, durante os momentos de maior crise em Petrópolis, os radioamadores trocaram mais de 1.000 mensagens urgentes, das quais pelo menos 600 foram de alerta máximo para que as pessoas deixassem suas casas imediatamente.
– Ou seja, o recado de perigo iminente foi emitido logo que o temporal começou a apertar. Quando percebemos que a situação foi se agravando,  aceleramos os avisos à comunidade, de diversas formas, por meio dos radioamadores localizados em todos os pontos do município, sobre a necessidade de evacuação imediata dos imóveis nas áreas de risco – destaca Fábio, lembrando que na Vila Felipe, uma das localidades mais devastadas, somente um rádio transmissor fez a ponte de comunicação dos bombeiros na região por três dias, abastecido por gerador. 
– Recebidos por nossos radioamadores, os avisos foram retransmitidos aos moradores por líderes comunitários de diversas formas. E durante as ações dos órgãos ligados à Defesa Civil, as informações chegavam aos socorristas apenas por meio das nossas ondas – orgulha-se o voluntário Rafael Jerônymo, de 42 anos, que carrega um aparelho na garupa de sua moto. A sua improvisada base móvel de rádio transmissão foi parar em localidades a 1,5 mil metros de altitude.
Reconhecimento governamental
Os esforços dos radioamadores já tinham sido reconhecidos pelo atual Governo do Estado antes mesmo das graves ocorrências em Petrópolis. Eles foram incluídos no Plano de Contingência Estadual para as chuvas de verão há dois anos atrás, através da chamada Rede Salvar, pela Rede Estadual de Emergência de Radioamadores (REER). Trata-se de um programa de voluntariado, criado, ordenado e treinado pela Defesa Civil Estadual. No âmbito municipal, a ROER já era engajada também em Petrópolis.
Integrado por 3,5 mil cidadãos, aptos para atuar em casos de emergência em todo o território fluminense, a Salvar reúne pelo menos 20 instituições organizadas. Fábio Hoelz lembra que a ROER já existe desde a catástrofe climática da Região Serrana de 2011, quando mais de 900 pessoas morreram. 
Graças à atuação da rede naquela época, a entidade recebeu o prêmio alemão Golden Antena. Foi a primeira da América Latina a ganhar a condecoração. Fábio não esconde as lágrimas ao falar de tais reconhecimentos.
– Lutamos muito por isso. Dos 500 radioamadores da Região Serrana, cerca de 300 são de Petrópolis e arredores. Todos treinados e com a mesma garra e vontade de ajudar o próximo em situações emergenciais. Para se ter uma ideia, tivemos que limitar em 53 pessoas na frequência de transmissão nos piores dias da tragédia, o que evitou tumulto na propagação de informações oficiais – detalha Fábio.
Um hobby que virou paixão de pai para filho e que pode salvar vidas
A rádio transmissão, definida como o pai das redes sociais, se sustenta com as mensagens sendo transmitidas por meio de repetidoras, que permitem a comunicação em toda as partes do mundo. Os radioamadores se dedicam a esse tipo de comunicação como hobby para os pouco mais de 39 mil brasileiros apaixonados por esse tipo de comunicação, ainda tida como rudimentar. No mundo, passam de 6 milhões.
– Me recordo sempre da alegria que fiquei quando meu pai, Odyr Duarte Hoelz, chegou em casa com um aparelho debaixo do rádio. Ele instalou em casa e me fascinou. Nunca mais deixei essa paixão – conta Fábio Hoelz.
O radioamadorismo na verdade é um serviço de telecomunicação, sua prática requer, em quase todos os países, habilitação e licença por autoridades do setor, que tem legislação específica, que regulamenta as condições de uso e as frequências de rádio destinadas à atividade. A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) delimita as frequências permitidas. Existe ainda um código de ética, que não tolera discriminações sociais, raciais ou políticas.
Ao contrário do que muitos pensam, o radioamadorismo é diferente do Serviço Rádio do Cidadão (conhecido como PX no Brasil) ou Serviço Limitado Privado (exercido via rádio por categorias profissionais como motoristas, taxistas, caminhoneiros, entre outros).
Primeiros contatos no fim do Século 19
Segundo historiadores, o radioamadorismo teve início com as primeiras emissões de rádio no final do século 19. A comunicação entre os radioamadores pode ser feita por voz, por meios digitais ou por computador. Muitos radioamadores, entretanto, ainda preferem usar o meio mais antigo de comunicação sem fio: o código Morse, ou telegrafia. 
No radioamadorismo, cada um é uma mistura de letras e números: ZW1OAS, CT2HKY, PT2ADM. Os três primeiros caracteres indicam o lugar onde a pessoa mora; no caso de Brasília, PT2. Um dos principais hábitos dessa turma é desafiar as fronteiras e entrar em contato com radioamadores de outros países. 

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