Desenvolvido pela startup brasileira Mobile Brain, o estudo avaliou crianças em período de alfabetização a partir de “contação de histórias”
Uma pesquisa descobriu que a forma com que uma criança conta uma história está diretamente ligada ao seu desempenho de leitura – antes mesmo dela aprender a ler. E quanto mais avança o aprendizado também na escrita, mais complexas suas histórias se tornam. Publicado na revista científica Science of Learning, do grupo Nature, o estudo foi realizado pela startup brasileira de educação Mobile Brain por meio de um estudo matemático aplicado via Análise Computacional de narrativas, que chegou até aos alunos em formato de “jogo” de contação de histórias.
“A pesquisa significa um avanço na forma em que a leitura de crianças é avaliada e apoiada no setor educacional. Por meio de neurociência computacional, a abordagem torna-se acessível e escalável para monitorar o desenvolvimento cognitivo de crianças e propor abordagens efetivas para aproveitar o máximo potencial no período da alfabetização”, avalia a neurocientista, uma das responsáveis pelo estudo e Diretora da Mobile Brain, Natália Mota.
Ao longo dos 12 meses letivos, a Mobile Brain acompanhou 253 estudantes do primeiro e segundo ano do ensino fundamental. Durante o estudo, conforme passavam pela alfabetização, as crianças eram estimuladas a contarem histórias a partir de três figuras e imagens positivas (um bebê, um cachorro e uma sobremesa). Assim, as narrativas de cada criança eram transcritas e concatenadas para criar um único texto que, em seguida, era analisado matematicamente, para avaliar sua conectividade a partir de uma representação gráfica da sequência de palavras faladas pelo estudante (chamada grafo). Essa análise foi feita em janelas móveis de 30 palavras para comparar tamanhos diferentes de histórias criadas.
Os resultados mostraram que, à medida que os estudantes produziam uma sequência de palavras com menos repetições, a conectividade nas narrativas orais aumentava. Isso sugere que quando as crianças usam um vocabulário mais diverso, suas histórias se tornam mais complexas e detalhadas. Curiosamente, a complexidade adquirida no primeiro semestre letivo diminui logo depois das férias escolares da metade do ano, mas retornam aos níveis anteriores ao longo do segundo semestre, de maneira que a aquisição de leitura que ocorreu no início do ano espelhou o desenvolvimento após o retorno ao ambiente escolar e apresentou resultados satisfatórios no final do ano.
“Correlações significativas foram encontradas entre a conectividade nas narrativas e o desempenho em tarefas de leitura realizadas meses depois. Narrativas com maior conectividade estavam associadas a melhor consciência fonológica, compreensão de leitura e precisão de palavras”, explica Natália.
A pesquisa sugere, ainda, que as narrativas orais podem prever habilidades de leitura com meses de antecedência. Os resultados indicaram que as crianças que contaram as histórias mais complexas antes de sair de férias no meio do ano, foram as que tiveram melhor desempenho em avaliações de leitura no final do ano. O contrário também acontece: estudantes com narrativas menos complexas antes das férias apresentaram um pior desempenho em habilidades de leitura no final do ano.
O estudo também destacou diferenças de gênero, com meninas apresentando maior conectividade nas narrativas que os meninos, e padrões variados de associação com o desempenho na leitura.
Ainda de acordo com a neurocientista Natália, o método utilizado na pesquisa já está em aplicação no Brasil, chamado de LitMetrix, proposto como uma ferramenta escalável e de baixo custo para avaliar em grande escala o desenvolvimento cognitivo na produção de narrativas orais, que está relacionado à aquisição de leitura. A solução funciona a partir de uma avaliação lúdica e rápida, que pode ser feita online em cerca de 3 minutos, e traz informações cientificamente apuradas sobre o desenvolvimento cognitivo de alunos na educação básica.
“Isso permitiria uma avaliação inclusiva e acessível do desenvolvimento cognitivo infantil, contribuindo para melhorar a educação”, explica.
Sobre a Mobile Brain
A Mobile Brain é uma startup de educação que combina neurociência computacional e evidências científicas com o objetivo de transformar a educação no Brasil. Fundada pela doutora Natália Mota, psiquiatra e cientista-chefe, a Mobile Brain utiliza a teoria dos grafos para analisar narrativas e sua relação com a cognição. Por meio do LitMetrix, um conjunto de índices, eles monitoram a complexidade narrativa para todos os anos escolares e preveem a performance de leitura de estudantes do 1º e 2º ano do Ensino Fundamental. Essa ferramenta ajuda escolas e professores a acompanhar o desenvolvimento dos alunos com base em evidências científicas. Visite o site oficial.
A Mobile Brain faz parte do Ecossistema Square, primeira rede brasileira de startups de educação, que atua através de venture building e investimentos em startups. O objetivo do grupo é criar um grande ecossistema de soluções integradas e escaláveis para transformar a educação no Brasil e no mundo. Saiba mais clicando aqui.
Sobre Natália Mota
Psiquiatra e neurocientista com pós-doutorado pelo Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Natália Mota é pioneira internacionalmente reconhecida no recente campo da psiquiatria computacional, criando algoritmos para análise do discurso aplicado a estratégias para rastreio de sinais de sofrimento mental. Desenvolve estudos principalmente em psicoses, demências e efeitos agudos da pandemia do COVID-19, além do desenvolvimento cognitivo e do aprendizado (aquisição de leitura e bilinguismo).
Natália é Membro da Schizophrenia International Research Society (SIRS), vencedora do Global Awards 2023 pela mesma sociedade, no comitê da rede Discourse in Psychosis, alumni da LASchool for Education. Também é Vencedora e indicada a prêmios nacionais e internacionais como os das revistas científicas Nature – Inspiring Scientist em 2019 e da lista FORBES das “20 Mulheres Mais Poderosas do Brasil” em 2020.
Atualmente, Natália é professora da Faculdade de Medicina, Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Diretora e cientista-chefe da Mobile Brain, startup brasileira de educação que combina neurociência computacional e evidências científicas com o objetivo de transformar a educação no Brasil.
Fonte: Milka Verissimo