Psicóloga explica sobre a importância de se atentar à preocupação dos pais que chegam até a fragilidades do casamento
Muitas vezes a atenção é concentrada nos sintomas e nas necessidades da criança acometida com o TEA, os pais e cuidadores são deixados de lado. No entanto, essas pessoas também têm características peculiares.
Desde a descrição do transtorno do espectro autista, conhecido hoje no DSM-5 e autismo infantil, conhecido no CID-10, o psiquiatra Dr Leo Kanner já tinha observado características inusitadas dos pais dessas crianças.
Características como obsessividade, tendência a manutenção de rotina e dificuldades na socialização são comuns e atualmente, observa-se que esses pais têm alguns sintomas bem parecidos com o seu próprio filho. Hoje, a denominação desses sintomas abrandados nas famílias das pessoas com autismo recebe o nome de Fenótipo Ampliado do Autismo, ou seja, a pessoa apresenta algumas características que parecem bastante com o transtorno, porém não fecha todos os critérios para ser diagnosticado. Não significa que algum pai ou alguma mãe tenha realmente este diagnóstico.
A psicóloga Patrícia Lorena, especialista e estudiosa do assunto, afirmou que uma característica importante das genitoras e dos genitores também é o processo de luto.
Quando uma criança é diagnosticada com Síndrome de Down, essa deficiência é uma síndrome genética, que vai acometer o nível intelectual da criança. Logo que os pais recebem a notícia, passam pelo processo de luto e já sabem que o pequeno terá esse rebaixamento intelectual.
No caso dos pais das crianças com autismo, a psicóloga ressalta que o luto é praticamente interminável, porque existe uma variabilidade muito grande nesse transtorno: autistas que falam e autistas que nunca vão falar; autistas com inteligência acima da média, dentro ou muito abaixo; autistas com comorbidades de epilepsia; às vezes a pessoa tem um nível cognitivo preservado que são acometidos com depressão e ansiedade; autistas que são brilhantes em algumas áreas e outros tem uma dificuldade enorme nas atividades da vida diária.
Por isso, a psicóloga explicou que quando esse diagnóstico é recebido, sabe-se que a criança vai ter dificuldade, mas nunca se consegue mensurar que tipo de dificuldade é essa.
O pai passa por muitos profissionais até chegar no diagnóstico, logo após, ocorre o processo do luto. Depois, surgem as dúvidas “será que meu filho vai falar?” e se isso não ocorrer, ocorre mais um processo de luto. Portanto, o pai e a mãe precisam receber uma atenção especial da equipe de saúde para lidar com esses conflitos.
Em capítulo de livro que a psicóloga Patrícia escreveu juntamente com o doutor Francisco Baptista Assumpção Junior e o doutor José Alberto del Porto, uma pesquisa extensa foi realizada em literatura estrangeira. A conclusão foi que cerca de 25% dos pais chegam ao
divórcio, uma faixa bem menor do que os pais com crianças com outra deficiência.
Embora a família permaneça junta, provavelmente por causa da grande dificuldade de encontrar atendimento, um dos pais tem que parar de trabalhar para ficar a cargo dos cuidados da criança, e o outro tende a trabalhar mais. Assim, muitos casais permanecem
juntos por causa dessas dificuldades, porém o casamento e a união vão se tornando cada vez mais quebradiças. Passam por inúmeras insatisfações conjugais, podendo até levar a transtornos de humor e a conflitos.
Outro ponto interessante é que a taxa de depressão entre pais e crianças diagnosticadas com autismo é três vezes maior do que a de pais de crianças com outras deficiências como a Síndrome de Down.
Por isso, a psicóloga reforça a necessidade também de um trabalho com estas famílias, para acolher tanto os pais, quanto as crianças, a fim de encaminhar melhor os cuidados e preservar a saúde mental de quem tanto se preocupa.
Fonte: Laura Ragazzo – Secom/Megussi