Soluções práticas e viáveis para evitar essa repetição de erros já existem, Entre elas a infraestrutura de drenagem e o manejo de águas pluviais urbanas minimizariam os riscos
O mundo está em transformação. Nas últimas décadas, assistimos a um singular aumento de eventos climáticos catastróficos, alertando para uma situação nunca antes percebida. Somente no ano passado, vimos recordes históricos de temperatura elevada no Canadá, inundações na Alemanha, incêndios recorrentes na Califórnia, Europa, Austrália. No Brasil, além dos incêndios, outro fantasma que traz o alerta para a influência das questões do clima na natureza é o de uma nova crise hídrica, que afetou – e ainda afeta – os reservatórios em boa parte do país.
E agora, neste verão, até o fim de março, teremos chuvas torrenciais e contínuas nas regiões Sudeste e Nordeste. Algumas cidades registraram quase 770mm de chuva somente em dezembro, o que corresponde a cinco vezes a média histórica para a região. “Em São Gonçalo por exemplo, no iniciou do mês tivemos fortes chuvas e muitas inundações. Bairros foram atingidos com fortes chuvas que causaram enchentes e desabrigou centenas de famílias. Não estou falando só de bairros de periferia, mas de centro também, como por exemplo Alcântara, que todo ano sofre com enchentes. A sociedade se mobilizou e se uniu com doações para amenizar a situação. Mas, tenho certeza que se houver um pouco de interesse pelos governantes em investir em obras de infraestrutura de drenagem e o manejo de águas pluviais urbanas minimizariam os riscos e pode evitar enchentes catastróficas”, explicou Marlos.
MAS POR QUE NOSSAS CIDADES SOFREM, CADA VEZ MAIS INTENSAMENTE, COM AS CHUVAS?
Entre as respostas, a despeito de um processo planetário de mudanças climáticas aparentemente em curso (e que tem afetado o regime e a intensidade das precipitações), há um conjunto igualmente importante de elementos que ajudam a explicar esse “sofrimento”. Entre os fatores, podemos ressaltar os problemas ligados ao descontrole do processo de urbanização e as decorrentes mudanças nas condições de uso e ocupação do solo, sobretudo em áreas ambientalmente sensíveis; as ocupações em áreas de espraiamento natural das águas (as chamadas várzeas), muitas delas irregulares; a canalização de cursos d’água ou a deficiência de estruturas de drenagem; a impermeabilização de ruas e calçadas (ou das próprias edificações); o acúmulo de lixo e entulho em áreas urbanas e cursos d´água; ou a remoção da cobertura vegetal das margens dos rios e córregos. “Esses são exemplos que, reconhecidamente, têm grande importância na redução da infiltração das águas de chuva e, portanto, no aumento do volume e da velocidade do escoamento superficial dessas águas, alterando o regime hidráulico e de drenagem natural (o chamado – hidrograma de cheias). É importante destacar que os efeitos diretos desse processo são bastante conhecidos, com destaque para as inundações, para o solapamento de margens e o assoreamento de corpos hídricos, o excesso acumulado de chuvas também é responsável por amplificar as instabilidades geotécnicas, aumentando (ou provocando) eventos de deslizamentos e escorregamentos de encostas, que quase sempre se traduzem em grandes tragédias”, aponta Marlos.
Embora o estudo desses fenômenos e a identificação de áreas com risco potencial de prejuízos à população sejam imprescindíveis, historicamente, a infraestrutura de drenagem e o manejo de águas pluviais urbanas não têm sido priorizados na Região Metropolitana. “Consideramos que somos os `primos pobres´ do saneamento. A falta de planejamento e de investimentos continuados, somadas às dificuldades dos municípios para a implantação de obras ou para a operação e gestão desses serviços, são fatores que deprimem, há décadas, os sistemas de drenagem urbana”, destaca Marlos.
Na realidade as soluções para esta triste situação estão longe de acontecer. Atualmente tanto os governos municipais, estaduais e federais, só lembram-se do problema das enchentes, quando chuvas fortes chegam. Prometem que vão resolver, e durante o decorrer do ano cai no esquecimento. Falta vontade política de criar emendas para obras de saneamento que sinalize e inspire mudanças relevantes nesse segmento, a mitigação da maior parte dos problemas com inundações ainda parece distante. “Precisamos urgente de soluções e de programas de investimento, em propostas voltadas à maior resiliência e aprimoramento dos serviços de drenagem, além de fomentar o desenvolvimento tecnológico e a convivência harmônica das cidades com suas águas, contribuindo para a melhoria do clima, da paisagem, da qualidade e disponibilidade hídrica e, claro, da sustentabilidade ambiental e urbana”, pontua Marlos Costa.
RAIO X
Marlos Costa, além de ser advogado é analista do Tribunal de Contas, foi ex-vereador por dois mandatos, ex Secretário Municipal de Desenvolvimento Social, Infância e Juventude em São Gonçalo. Tem experiência tanto como legislador como executivo. Participou e participa de vários projetos sociais, onde luta por causas em prol das minorias e dos direitos dos cidadãos. Nestas eleições, é pré-candidato a uma vaga na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) pelo Partido dos Trabalhadores (PT).