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Foto/Divulgação: Daniel Ebendinger

Palco de grandes conquistas políticas do Brasil e do Estado do RJ, o Palácio Tiradentes e a primeira Assembleia Constituinte, realizada neste local há exatos 200 anos, serão celebrados em concerto sinfônico inédito

 

            O Festival Interativo de Música e Arquitetura – FIMA encerra sua segunda edição de forma grandiosa: celebrando o Palácio Tiradentes, sede histórica da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), referência na arquitetura, história e memória política do País. O espaço receberá a apresentação da Orquestra Sinfônica de Barra Mansa, regência de Daniel Guedes, na sexta-feira, dia 26 de maio, às 17h.

            Depois de homenagear palácios históricos no Rio de Janeiro, Belém, Petrópolis, São Luís e Ouro Preto, o FIMA reverencia, desta vez, este ícone da arquitetura eclética carioca da primeira metade do século XX, que combina elementos renascentistas e clássicos em uma síntese harmoniosa de diferentes estilos e épocas. Pensado especialmente para este concerto, o repertório dialoga com a história, a arquitetura e arte decorativa deste Patrimônio Cultural Brasileiro, reunindo composições que serão intercaladas pelos comentários de três especialistas: as arquitetas Noemia Barradas e Simone Algebaile, e o professor Fernando Ebert.  Com patrocínio do Instituto Cultural Vale por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, todas as apresentações do FIMA têm entrada gratuita.

Programação especial para a rede pública de ensino

            O FIMA realizará também, no mesmo dia, às 14:30h, o concerto sinfônico no Palácio Tiradentes exclusivamente para alunos do ensino público municipal e estadual da Escola vocacionada à Música – CIEP 485  de Barra Mansa e de alunos e professores do CE Júlia Kubitscheck, no Rio de Janeiro. Nos dias 8 e 9 de maio, aulas pré-evento foram realizadas presencialmente com os professores destas instituições de ensino. As ações fazem parte do FIMA na Escola, que tem como objetivo sensibilizar públicos de todas as idades a respeito do patrimônio cultural material e imaterial do nosso país propondo ações educativas no caminho da valorização e reconhecimento pelos jovens, de suas próprias identidades culturais. As aulas foram ministradas pelos três especialistas e o diretor artístico do FIMA Pablo Castellar. Em sua primeira edição, o FIMA ofereceu aulas preparatórias para mais de 60 professores no total, atingindo mais de 4 mil alunos do ensino fundamental I e II.

Foto/Divulgação: Julia Passos

O programa e seu contexto histórico

            O concerto começa com uma homenagem à arquitetura desta construção que incorpora influências renascentistas e barrocas. Assim, a abertura da ópera “Orfeo” de Claudio Monteverdi, uma música de transição entre estes dois períodos que apresenta diferentes temas musicais e variações ornamentais com a grandiosidade, a sofisticação e os elementos clássicos que remetem aos ideais renascentistas da antiguidade clássica, presentes também neste edifício.

            Em seguida, “Abertura em Ré”, obra do Padre José Maurício Nunes Garcia. Descendente de escravos, o compositor recebeu uma sólida educação tanto em música como em letras e humanidades, se tornando o compositor brasileiro mais importante do fim do período colonial e do início do Império do Brasil.  Suas obras representam bem este período de influências europeias dos estilos barroco e clássico. Foi mestre de capela, organista e professor de música.  Sua peça “Abertura em Ré” leva a plateia ao tempo em que, neste local, existia a histórica Casa de Câmara e Cadeia, prédio projetado para servir aos trabalhos do legislativo e abrigar prisioneiros políticos e outros detentos – dentre eles, Tiradentes, líder da Inconfidência Mineira, que passou seus últimos dias de vida encarcerado neste espaço. Esta obra musical foi escrita em um período de mudanças significativas na história do Brasil, quando o país deixou de ser uma colônia e se tornou o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves logo após a corte portuguesa se transferir em 1808 para o Rio, fugindo das invasões napoleônicas na Península Ibérica. Enquanto a família real se estabeleceu no Paço Imperial, seus empregados foram instalados neste edifício. 

            Um dos alunos do Padre José Maurício, foi o príncipe Pedro de Alcântara, autor da próxima obra do programa, a “Abertura para a Independência do Brasil”.  Nosso Imperador compositor também foi aluno de Marcos Portugal, um dos mais famosos compositores portugueses do período, e de Sigismund von Neukomm, aluno predileto de Joseph Haydn e professor de Beethoven, que desembarcou no Rio em 1816, na trilha da Missão Artística Francesa. Sua peça que será apresentada transporta o ouvinte ao período da independência do Brasil, quando a Casa de Câmara e Cadeia adquiriu uma importância ainda maior no cenário político do país, ao receber a primeira Assembleia Constituinte – no dia 03 de maio 1823, há 200 anos – e se tornando, em 1826, a sede do Parlamento Brasileiro.

            Nas décadas seguintes, já no segundo reinado, importantes decisões legislativas foram tomadas neste local, afetando o curso da história do Brasil, entre elas a Lei do Ventre Livre de 1871 e a Lei Áurea de 1888. É de 1889 a próxima obra do programa, que ecoa bem este período de mudanças sociais e econômicas no Brasil. Da ópera “O Escravo”, será apresentado a Alvorada de Antônio Carlos Gomes, o mais importante compositor brasileiro do fim do século XIX, que conquistou fama internacional por suas óperas, que misturavam elementos da música clássica europeia com as tradições musicais brasileiras. Alvorada é uma abertura escrita para o terceiro ato desta ópera.

            Dom Pedro II, que foi o grande apoiador e mecenas de Carlos Gomes, receberia, neste mesmo ano de 1889, o golpe republicano que iria destituir o Império brasileiro e implementar a República no Brasil. Neste novo cenário político, este símbolo do passado colonial do Brasil, a Cadeia Velha, não condizia mais com a modernidade que a cidade do Rio de Janeiro buscava apresentar ao mundo. Isso ficou ainda mais evidente após o início da reurbanização da cidade pelo prefeito Francisco Pereira Passos, a partir de 1902. Por essa razão, em 25 de dezembro de 1921, foi aprovado um projeto dos arquitetos Archimedes Memória e Francisco Couchet para demolir o prédio e construir no seu lugar a nova sede do Legislativo.

Foto: Divulgação

            Para representar esses novos tempos, o repertório destaca a obra de um compositor que deixou um dos legados mais sólidos e expressivos do modernismo nacional, o maestro Oscar Lorenzo Fernández. Nacionalista convicto, em 1922, mesmo ano em que este palácio começou a ser construído, conquistou três primeiros lugares no concurso nacional de composição promovido pela Sociedade de Cultura Musical, participou ativamente como assistente da Semana de Arte Moderna em São Paulo e se casou com Irene Soto Lorenzo Fernândez. A suíte sinfônica em três partes, “Reisado do Pastoreio”, que contém a peça Batuque, a qual será apresentada pela orquestra sinfônica, foi composta poucos anos após a inauguração deste edifício e foi responsável por divulgar o nome de Fernández no panorama internacional. É uma das peças de compositor brasileiro mais executadas no exterior, tendo sido interpretada por regentes de grande renome como Arturo Toscanini com a NBC de Nova Iorque e Leonard Bernstein com a Filarmônica de Nova Iorque. A vitalidade rítmica e a orquestração exuberante de Batuque apresentam elementos da cultura afro-brasileira, como a percussão e danças de origem africana.

            Em seguida, a Ária (Cantiga), da “Bachianas Brasileiras nº 4” de Heitor Villa-Lobos. Obra e compositor que refletem a história e a arquitetura do Palácio Tiradentes. De um lado as Bachianas mesclam a música barroca europeia com a tradição popular brasileira enquanto o Palácio incorpora em suas talhas em madeira o café do Brasil. Já o compositor atua no projeto nacionalista do governo Vargas promovendo a música brasileira como diretor do Departamento de Música do Ministério da Educação enquanto o palácio se transforma no Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) para controlar e difundir a imagem do Estado Novo e seus ideais nacionalistas. 

            Após a era Vargas, o Palácio Tiradentes acolhe em 1946 uma Assembleia Constituinte, iniciando uma nova fase política no Brasil. Com a transferência da capital para Brasília por Kubitscheck, o Palácio abrigou a Assembleia Legislativa da Guanabara, mantendo-se como marco político na cidade. Em 1960, com a transferência da capital do país para Brasília, o Palácio se tornou a sede da Assembleia Legislativa do Estado da Guanabara (ALEG). Para lembrar desse momento, será apresentada A Chegada dos Candangos, da obra “Brasília: Sinfonia da Alvorada” de Tom Jobim.  Com uma mistura inovadora de orquestração e ritmos brasileiros, Jobim cria uma atmosfera vibrante e emocionante que evoca o entusiasmo e a esperança de um país em plena transformação. A Chegada dos Candangos é uma homenagem aos verdadeiros heróis da construção de Brasília e simboliza a força e a união do povo brasileiro.

            Com a fusão dos estados da Guanabara e do Rio de Janeiro em 1975, o Palácio Tiradentes, passou a abrigar a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), funcionando, hoje, como sua sede histórica e sendo palco de eventos, sessões solenes e visita guiada. Por isso, para representar a diversidade cultural deste Estado, o concerto se encerra com o quarto movimento Escola de Samba da obra “Sinfonieta Seconda – Carnevale” de Ernani Aguiar, uma celebração à riqueza e à pluralidade do Carnaval fluminense, essa expressão cultural singular que abrange tantos aspectos de nossa sociedade.

Programa

Maestro: Daniel Guedes

Orquestra Sinfônica de Barra Mansa

Palestrantes:

Pablo Castellar – Compositor, produtor cultural e diretor artístico do Festival Interativo de Música e Arquitetura

Noemia Barradas  – Arquiteta e urbanista

Simone Algebaile – Arquiteta

Fernando Ebert –  Designer e coordenador das visitas guiadas do Palácio Tiradentes

Foto/Divulgação: Cícero Rodrigues

CLAUDIO MONTEVERDI

Orfeo, SV 318: Abertura

Composição: 1607  

Duração: 2 minutos

 

JOSÉ MAURICIO NUNÉS-GARCIA

Abertura em Ré

Composição: ca 1808

Duração: 5 minutos

 

PEDRO DE ALCANTARA (Dom Pedro I)  

Abertura para a Independência do Brasil 

Composição:1820

Duuração: 8 minutos

 

ANTÔNIO CARLOS GOMES 

O Escravo | Alvorada

Composição: 1889

Gomes, Antônio Carlos

Composição:1889

Duração:  8 minutos

 

LORENZO FERNANDEZ

Reisado do Pastoreio: “Batuque” –

Dança de Negros

Composição: 1930

Duração: 5 minutos

 

HEITOR VILLA-LOBOS

Bachianas Brasileiras nº 4

III. Ária (Cantiga)

Composição: 1942

Duração:  6 minutos

 

ANTONIO CARLOS JOBIM

Brasília: Sinfonia da Alvorada

II. A Chegada dos Candangos

Composição: 1960

Duração:  4 minutos

 

ERNANI AGUIAR

Sinfonieta Seconda – Carnevale

IV. Escola de Samba

Composição: 2003

Duração:  5 minutos

 

Duração total: 43 Minutos

 

Serviço:

26/5, sexta-feira – FIMA – Concerto de encerramento da 2º edição

Local: Palácio Tiradentes

14h30 – Apresentação exclusiva para os alunos e professores

17h – Apresentação para o público em geral

Endereço: Av. Pres. Antônio Carlos – Centro, Rio de Janeiro

Entrada gratuita

                                                     Classificação Livre

https://www.fima.art.br/

 

 

Sobre o FIMA

O FIMA, Festival Interativo de Música e Arquitetura, celebra a música de concerto e a arquitetura de prédios históricos, em uma experiência cativante e multissensorial. Em sua 2° edição, homenageia palácios do Brasil, trazendo renomados historiadores da arte, arquitetos e músicos brasileiros em diálogos musicais inéditos com a arquitetura, a arte decorativa e a história destes patrimônios materiais.

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