rio de janeiro

Foto: Divulgação

Grupo de pesquisadores da UVA e UFRJ, com apoio da Fundação Horizonte Cidadão, realizou estudo sobre a poluição na cidade e os riscos para a primeira infância
 

Com apenas uma estação de monitoramento capaz de medir a quantidade de material particulado fino (MP2,5) no ar, no bairro de Irajá, o Rio de Janeiro não tem como avaliar, com precisão, o grau de poluição, hoje, da cidade. A falta de monitoramento dificulta a realização de programas de melhoria da qualidade do ar que afetam, principalmente, crianças na primeira infância. Pela sua dimensão diminuta, o material particulado fino pode penetrar profundamente no sistema respiratório e na corrente sanguínea, acarretando doenças como pneumonia, asma e outras infecções respiratórias.

A conclusão consta no estudo “Ares novos para a primeira infância”, publicado recentemente por um grupo de pesquisadores da Universidade Veiga de Almeida (UVA) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com o objetivo de obter evidências para estabelecer um plano para reduzir a exposição das crianças à poluição.
 

Durante um ano, os pesquisadores realizaram o monitoramento da qualidade do ar com equipamentos portáteis de baixo custo fornecidos pela Fundação Horizonte Cidadão, do Chile, em seis bairros cariocas: Del Castilho, Campo Grande, Bangu, Tijuca, Madureira e Irajá, sendo que este último apresentou os piores resultados, com uma concentração maior de material particulado fino (MP2,5). A medição feita pelos pesquisadores no bairro apresentou uma diferença em relação à oficial de cerca de 20%, considerada adequada para os fins da pesquisa.
 

De acordo com o professor da Universidade Veiga de Almeida (UVA) Cleyton Martins da Silva, que faz parte do grupo de pesquisa, a poluição no bairro da Zona Norte se deve às emissões veiculares, mas também à presença de indústrias nas proximidades. “Irajá recebe constantemente plumas de massa de ar da Baixada Fluminense, onde há muitas indústrias, e do polo petroquímico, por isso é o bairro que apresentou os índices mais altos de poluição”, explicou o professor.
 

Para Cleyton, o monitoramento adequado é o primeiro passo para melhorar a qualidade do ar. Como a poluição atmosférica atinge principalmente crianças e idosos, a pesquisa foi direcionada, nesta primeira etapa, à primeira infância. “Posicionamos os monitores em locais próximos a creches e escolas, para monitorar os bairros pensando na saúde infantil”, informou o professor.
 

Os parâmetros para medir a qualidade do ar constam na resolução do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) atualizada em 2018, sendo que a primeira é de 1990. Nesta última resolução, foram incluídos os parâmetros para medir o material particulado fino, no entanto, eles estão aquém do que preconiza a Organização Mundial de Saúde (OMS).
 

“Se formos seguir o que determina o CONAMA, os índices de qualidade do ar no Rio de Janeiro estão dentro da legislação. Porém, nossa regulamentação está defasada. Ficamos 28 anos sem uma atualização, e a que temos atualmente tem discrepâncias em relação ao que a OMS determina”, explica Silva.
 

Para o professor, a falta de medição é o maior desafio para resolver a questão da poluição. “Não tem como dizer se está bom ou ruim sem medir. Hoje, só contamos com uma única estação de monitoramento que mede e publica as concentrações de MP2,5 na cidade, outros cenários estão descobertos. Existe uma necessidade real de expandir a rede de monitoramento”, atesta.
 

Os Índices de Qualidade do Ar (IQA) são calculados usando os seis poluentes principais (MP2,5, MP10, O3, NO2, SO2 e CO). Para MP10 e MP2,5, os valores máximos para o primeiro nível (correspondente a qualidade do ar Boa) são 50 e 25 μg m-3 (médias de 24 horas), respectivamente. Esses valores são maiores que os recomendados pela OMS (45 e 15 μg m-3, respectivamente).
 

“A discrepância entre a legislação brasileira e as recomendações da OMS, assim como toda a evidência publicada sobre os riscos à saúde, especialmente ao considerar MP2,5, indicam a urgência na revisão das normas no país, a necessidade de um monitoramento intensivo da qualidade do ar e da implementação de um plano para controlar a qualidade do ar e as emissões de poluentes”, conclui o estudo.
 

Segunda etapa
 

Em sua segunda fase de execução, a pesquisa segue com monitoramento em Bangu, Del Castilho, Glória, Maracanã, Paciência, Vargem Grande, e mais um bairro a ser definido. Em Paciência, o equipamento foi instalado em uma escola municipal, e o objetivo é realizar um programa de educação ambiental com os alunos.

Segundo Silva, a estratégia é utilizar os monitores para um estudo preliminar de baixo custo para, assim, identificar os locais mais críticos e, posteriormente, instalar os medidores oficiais para a região.
 

“Nesta primeira etapa, focamos o estudo no Rio de Janeiro, mas, se pensarmos em termos de Brasil, a situação é ainda mais crítica. Muitas regiões do país não contam com nenhum tipo de monitoramento do ar”, salientou.

O estudo teve início a partir de um convite da Fundação Horizonte Cidadão, fundada em 2018 pela ex-presidente do Chile, Michelle Bachelet. O objetivo é criar uma rede para receber os dados das medições da qualidade do ar de diversas cidades da América Latina.

 

Fonte: Rafael Bolsoni Bastos/Danthi 

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