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Foto/Divulgação elaine-garcia

O quanto de literatura existe no teatro? O quanto de dramaturgia pode existir na música e vice-versa? Com uma trajetória iniciada na arte de rua no inícios dos anos 2000, a paulistana Elaine Garcia “desaguou” – como um rio – e reuniu toda a sua potência multiartística em um livro: ‘Curumin Canoa’, em pré-venda pela editora Xará.

 Com várias referências de elementos da natureza e sensoriais, a obra tem como tema central a liberdade, a partir da pespectiva da autora, que é psicóloga especialista em terapia cognitivo-comportamental e em rede de atenção psicossocial.
 “No livro, há neologismos dos quais gosto bastante e que me servem quando não encontro uma palavra ou uma expressão na língua portuguesa que exprima exatamente aquilo que preciso comunicar. Por exemplo: ‘Quisera curumim ser estrelazul no céu ou pedrazul no mar, quimera’.
 
É um livro que traz ideias de indignação diante de certas realidades, mas busca fazer isso de maneira questionadora, ou reflexiva, não combativa”, explica Elaine Garcia.
A autora se inspirou na ideia de unir em uma coletânea os textos que melhor representassem sua trajetória multiartística, em que teatro, música, artes visuais e literatura se encontram e dialogam.
O poema “Gripe”, por exemplo, escrito em 2010 e inspirado na gripe espanhola, revela-se ainda mais impactante no contexto da pandemia de Covid-19. “Depois que peguei para reler alguns desses textos, fiquei impressionada. Escrevi dez anos antes da pandemia e é curioso como ainda é um tema tão atual”. A partir desse texto, a autora reflete sobre como certas vivências coletivas se repetem na história e como lidamos com elas, trazendo uma ressonância com os tempos atuais:
“A gripe levou os sonhos.
A gripe levou crianças.
A gripe lavou as mãos.

Para que não morresse a poesia.
Para que não morresse a criança.
Para que não lavasse o desejo.
Para que não apagasse a fé.”

Elaine também tem um carinho especial pelo poema ‘Quente noite fria de inverno’ e explica o porquê. “São dois motivos: o primeiro é que ele sintetiza uma fase crucial de minha jornada pessoal e também artística. Foi escrito no auge do trabalho com poesia de rua. Embora date de 2006, tenho a vaga impressão de que foi escrito antes disso. O segundo motivo é porque se trata de um retrato fiel das pesquisas de linguagem que citei. É um exemplo bem característico de como funcionava meu processo criativo. E acredito que ainda seja um pouco assim ainda hoje”, conta.

Apesar de não haver nenhum influência literária direta em seus textos, Elaine destaca que lê bastante os poetas clássicos como Carlos Drummond de Andrade, Manoel de Barros, Manuel Bandeira e a contemporânea Matilde Campilho.
 
“Creio que Manoel de Barros e Manuel Bandeira tenham me ensinado sobre a simplicidade, a poesia presente nas pequenas coisas, nos detalhes e nas relações interpessoais. E são poetas muito coloridos, imagéticos, tenho afinidade com isso. Enquanto Carlos Drummond e Matilde Campilho me passam a impressão de contemporaneidade, de uma sintonia fina, atenta e lúcida com o mundo ao redor”, explica a autora.
O encontro com a editora Xará, de Maricá-RJ, se deu por acaso, por meio das redes sociais. E o que iniciou sem pretensão se tornou amor à primeira vista. “As meninas enviaram uma mensagem sobre a aprovação dos originais e teve início meu amor à primeira vista pela editora e pela equipe. Tem sido um processo enriquecedor, emocionante, e tenho conhecido artistas incríveis nesse caminho. Sou muito grata a essa oportunidade”, resume.
O lançamento de “Curumin canoa” será uma celebração do percurso artístico de Elaine Garcia. Ela espera poder reunir amigos, familiares e leitores para o fechamento de um ciclo e o início de outro, o que descreve como um passo importante em seu amadurecimento pessoal e artístico.
Fonte: Cyntia Oliveira

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