O quanto de literatura existe no teatro? O quanto de dramaturgia pode existir na música e vice-versa? Com uma trajetória iniciada na arte de rua no inícios dos anos 2000, a paulistana Elaine Garcia “desaguou” – como um rio – e reuniu toda a sua potência multiartística em um livro: ‘Curumin Canoa’, em pré-venda pela editora Xará.
É um livro que traz ideias de indignação diante de certas realidades, mas busca fazer isso de maneira questionadora, ou reflexiva, não combativa”, explica Elaine Garcia.
A autora se inspirou na ideia de unir em uma coletânea os textos que melhor representassem sua trajetória multiartística, em que teatro, música, artes visuais e literatura se encontram e dialogam.
A gripe levou crianças.
A gripe lavou as mãos.
…
Para que não morresse a poesia.
Para que não morresse a criança.
Para que não lavasse o desejo.
Para que não apagasse a fé.”
Elaine também tem um carinho especial pelo poema ‘Quente noite fria de inverno’ e explica o porquê. “São dois motivos: o primeiro é que ele sintetiza uma fase crucial de minha jornada pessoal e também artística. Foi escrito no auge do trabalho com poesia de rua. Embora date de 2006, tenho a vaga impressão de que foi escrito antes disso. O segundo motivo é porque se trata de um retrato fiel das pesquisas de linguagem que citei. É um exemplo bem característico de como funcionava meu processo criativo. E acredito que ainda seja um pouco assim ainda hoje”, conta.
“Creio que Manoel de Barros e Manuel Bandeira tenham me ensinado sobre a simplicidade, a poesia presente nas pequenas coisas, nos detalhes e nas relações interpessoais. E são poetas muito coloridos, imagéticos, tenho afinidade com isso. Enquanto Carlos Drummond e Matilde Campilho me passam a impressão de contemporaneidade, de uma sintonia fina, atenta e lúcida com o mundo ao redor”, explica a autora.