O curso de barbeiro teve início em março e encerrou o ciclo neste mês de julho. Todos os participantes receberam material e ficarão com seus equipamentos após o encerramento das aulas para que possam iniciar de imediato e atender seus clientes.
“Sou destro, então, na barbearia uso a mão direita para tudo. A esquerda fica só como apoio. O dedo que perdi não me atrapalha em nada. Ter a possibilidade de atuar fazendo corte de cabelo e barba foi o que me deu a possibilidade de ter um novo trabalho”, diz Wagner. “Já estou cortando o cabelo e a barba dos amigos. Mesmo antes de formado, já consigo ganhar um dinheiro. Agora, com o diploma, as pessoas terão mais confiança no meu trabalho e a clientela tende a aumentar”, almeja.
O pernambucano João Carlos Gomes, de 47 anos, chegou ao Rio de Janeiro há 10 meses. Ele já havia trabalhado como motorista e mecânico em sua terra natal, mas não encontrou trabalho na cidade. Em situação de rua, ele veio para Niterói onde foi acolhido pela equipe da secretaria de Assistência Social e Economia Solidária. No abrigo onde fica hospedado, João soube da possibilidade de fazer o curso de barbearia.
“A partir daí, um novo horizonte se abriu para mim, porque eu sempre gostei muito de andar com o meu cabelo e minha barba aparada, mas nunca tinha pensado em eu mesmo trabalhar com isso. Nas aulas, o professor Carlos teve muita paciência para nos ensinar, não só as técnicas de barbearia, mas também como podemos exercer nosso trabalho, seja numa barbearia ou de forma independente, atendendo em domicílio. Isso me deu outra perspectiva”, conta João Carlos.
Profissional da área há 13 anos, Carlos José Félix Roque é o responsável por passar seus ensinamentos aos alunos.
“Eu me sinto muito bem de estar participando de uma ação como essa porque me preocupo com o próximo. Vim de uma família bastante humilde, então me vejo muito neles. Esse tipo de atividade é essencial para termos um Brasil melhor. Eu lembro bem que o meu primeiro presente foi uma máquina de cortar cabelo que minha mãe me deu quando eu tinha 15 anos. De lá para cá, eu me encaixei no ramo do corte de cabelo. Essa tem sido uma experiência única para mim. Já dei outros cursos, mas nenhum se comparou a esse. Eu vejo um desempenho muito grande deles, como se fosse a última oportunidade. Eles abraçaram esse curso e isso tem sido muito gratificante”, pontua o professor Carlos.
Formação de cooperativa
Além do curso, os participantes serão capacitados para atuarem de maneira coletivizada, com a perspectiva de formação de uma cooperativa de serviços, acompanhada pelo Banco Arariboia. As vagas são exclusivas para as pessoas atendidas pelas unidades de acolhimento institucional e pelo Centro de Atendimento à População em Situação de Rua, o Centro Pop.
O processo de incubação que será trabalhado pelo Banco Arariboia com os participantes para formar uma espécie de cooperativa vai durar aproximadamente seis meses. A Secretaria Municipal de Assistência Social e Economia Solidária já promoveu três iniciativas similares com a criação da Cooperativa Terra Viva, em Santa Bárbara; a Gastronomia Sustentável, no Morro da Penha; e o de Cuidadoras de Idosos, no Centro.