O quinto dia da 9ª Festa Literária Internacional de Maricá (Flim), na orla do Parque Nanci, reuniu na terça-feira (05/11) os escritores Valter Hugo Mãe, Teresa Cárdenas e José Eduardo Agualusa para falar sobre “Memórias Angola, Cuba e Portugal”, em um bate papo sobre identidade cultural, literatura e racismo.
Na abertura da roda literária, a atriz Letícia Sabatella falou sobre importantes escritores da literatura mundial que, segundo ela, trazem um referencial do passado e ao mesmo tempo uma perspectiva muito diferente para o presente.
“Eles têm uma resistência no ato de escrever, trazendo um panorama fora de estereótipo com reflexões muito luminosas sobre nossa existência. Acho o evento aqui em Maricá maravilhoso. O município tem feito coisas muito legais em termos de cultura e estou muito feliz por participar da Flim”, afirmou.
O escritor português Valter Hugo Mãe trouxe o livro “Deus na escuridão”, lançado recentemente no Brasil que narra a história sobre dois irmãos e a necessidade de cuidar de alguém com lealdade e resiliência.
“Este romance se passa na Ilha da Madeira, em Portugal, e é um regresso meu às temáticas portuguesas depois de ter escrito sobre Islândia, Japão e Amazônia”, contou Valter, que também falou sobre a festa dos livros de Maricá. “É um prazer estar aqui e encontrar os leitores. Eventos como esse são importantes porque estou convencido de que os livros fazem a humanidade. É muito difícil manipular e abater um povo que seja informado e, por isso, a Flim é uma maneira de criar cidadania, direitos e autoestima”, ressaltou.
História contada em várias versões
O escritor angolano José Eduardo Agualusa levou para festa literária seu livro “Mestre dos Batuques”, um romance onde ele discute questões de identidade e de pertencimento, subvertendo estereótipos e ideias predefinidas, ao mesmo tempo em que expõe os crimes e contradições do processo colonial português no continente africano. No debate, ele pontuou que nos últimos anos têm surgido nos países africanos uma série de escritores trabalhando o lado histórico por ser uma maneira de dar outra versão daqueles acontecimentos.
“A nossa história era contada por colonizadores e pra mim é muito importante escutar diferentes versões. Acho que o livro de História deveria conter várias versões e no fundo é isso que faço no meu romance”, afirmou o escritor.
Agualusa também respondeu uma pergunta da plateia sobre as fake news que se espalham pela internet em redes sociais. Para o escritor, isso se deve muito ao que chamou de “colapso da imprensa escrita”.
“Notícia falsa é um problema enorme. A nossa geração cresceu lendo jornais. As novas gerações desabituaram a esta leitura e perderam muito com isso porque muitas vezes recolhem as notícias das redes sociais e tem dificuldade de distinguir as falsas das verdadeiras. Muitos problemas que temos hoje resultam daí”, acrescentou.
A cubana Teresa Cárdenas citou seus personagens com rostos negros na literatura e disse que foi criada com muito amor, porém num país muito racista. Sua motivação para tornar-se escritora veio ainda na infância, quando começou a ler e ficou frustrada com a ausência de personagens negras nos livros infantis.
“Quando comecei a escrever, o objetivo foi criar personagens negras e assim abordar questões que não eram faladas nos livros infantis, como racismo, violência contra a mulher, o abandono de idosos, a reivindicação de figuras históricas africanas, a emigração, o abuso sexual de meninas e a religião afro-cubana”, contou Cárdenas. “São questões que sempre me preocuparam, algumas delas eu vivi na infância e tive que aprender a lidar com tudo sozinha. Escrevo, entre muitas coisas, para que as pessoas negras se sintam representadas e acompanhadas”, completou.
A Festa Literária Internacional de Maricá (Flim) acontece na orla do Parque Nanci e vai até o dia 10 de novembro. Para acompanhar a programação completa e as atividades em tempo real, acesse as redes sociais da Flim (@flimrj) e da Prefeitura de Maricá (@prefeiturademarica) ou o site: www.flimmarica.com.br.