A escoliose infantil é algo bastante recorrente ao redor do mundo, com muitos quadros que acabam necessitando de cirurgia quando não são identificados e tratados precocemente. Por mais que esses casos sejam frequentes nestes pacientes, é importante ter em mente que grande parte das cirurgias para escoliose em crianças e adolescentes pode ser evitado, desde que seus sinais sejam rapidamente identificados para evitar maiores problemas que prejudiquem a qualidade de vida e crescimento dos jovens.
Existem diversos tipos de escoliose que podem acometer a população, cada qual com suas próprias características, sintomas e faixas etárias nas quais costumam mais aparecer. No caso das crianças e adolescentes, a mais comum de ser diagnosticada é a idiopática – a qual, segundo a OMS, acomete mais de 50 milhões destes pacientes em todo o mundo.
Por mais que seja mais vista na adolescência, suas causas ainda são desconhecidas pela medicina, apresentando características e níveis de evolução variados conforme cada caso. Contudo, é fato que, dependendo da idade na qual for diagnosticada, pode desencadear problemas sérios que, muito provavelmente, levarão à necessidade da cirurgia para amenizar os desconfortos e outros problemas decorrentes.
No geral, as escolioses descobertas antes dos oito ou dez anos, são as que costumam evoluir para quadros mais graves, uma vez que para o jovem, neste período, o potencial de crescimento da curvatura da coluna é maior. Enquanto isso, aqueles descobertos após essa idade, quando o paciente está passando por seu esporão de desenvolvimento, apresentam uma maior probabilidade de desenvolver para um desvio do tronco para lateral ao longo do seu crescimento.
Normalmente, os primeiros sinais que costumam ser vistos naqueles que apresentam este problema incluem o desnivelamento dos ombros; cintura assimétrica, com um lado mais “escavado” do que o outro; e escápulas proeminentes. A presença de qualquer um deles exige a busca imediata por um cirurgião especialista, de forma que consiga realizar exames aprofundados e orientar se há, de fato, necessidade de uma cirurgia, ou se é possível seguir com outras medidas corretivas tão eficazes quanto.
Muitas crianças menores costumam ser direcionadas a utilizar gesso corretivo para o desvio identificado, capaz de contribuir fortemente para a correção do problema. Já as mais velhas que ainda apresentarem uma curvatura superior à 35 graus, normalmente, costumam utilizar o colete para escoliose para evitar sua progressão. Quando adotado corretamente, este material – disponível no mercado em modelos diversos – pode evitar cerca de 70% dos casos cirúrgicos.
Contudo, caso venham a precisar, de fato, para a cirurgia, muito vem avançando sobre este procedimento em nosso país. Em 2022, inclusive, nosso Sistema Único de Saúde (SUS) realizou, no Rio de Janeiro, a primeira cirurgia que utiliza uma técnica inovadora para corrigir quadros graves de escoliose e hipercifose infantis em apenas uma operação. A tecnologia, na prática, envolve a implementação de um dispositivo para acompanhar o alongamento da coluna da criança, evitando o retorno do problema, e é voltada para menores de dez anos com até 18 kg.
Independentemente do método escolhido, é importante esclarecer que a principal ação de combate e controle à piora da escoliose é seu diagnóstico precoce. Por isso, os pais precisam estar atentos a qualquer sintoma fora do usual nos pequenos, para que consigam levá-los a um especialista e obterem a melhor indicação de quais passos tomarem.
Em conjunto, o papel ativo das instituições de ensino se torna crucial. Os programas de rastreamento nas escolas, conhecidos como “school screening”, são alguns dos métodos mais eficazes para identificar a escoliose em seus estágios iniciais, e que devem estar presentes nesses ambientes para que os profissionais de saúde consigam aplicar a intervenção precocemente e promover uma melhora significativa do prognóstico.
Assim, este desvio na coluna não irá ocasionar em malefícios que agravem a qualidade de vida destes pacientes em seu crescimento.
Fonte: Colaboração/Por: Dr. Carlos Eduardo Barsotti