Na última semana, o disparo acidental de uma arma de fogo em um set de gravação de um filme, tirou a vida de uma pessoa. A diretora de fotografia Halyna morreu após o ator Alec Baldwin manusear a arma durante as gravações. A arma estava carregada e atingiu a moça, tirando sua vida.
Uma verdadeira tragédia em que, apesar da evidência de uma fatalidade, o abalo emocional sofrido por todos os que estavam presentes é muito real. Paira no ar o sentimento de culpa. Principalmente, no caso do ator Alec Baldwin que disparou, sem qualquer intenção de ferir, a arma em questão e, consequentemente, feriu e matou sua colega de trabalho.
Neste contexto, a sensação da culpa, pode alojar-se na mente de quem cometeu um equívoco ou um erro, sem intenção de fato, ou seja, não sendo de fato culpado. Mas fica estigmatizado no inconsciente, uma culpa velada. E como esse sentimento se manifesta ao longo da vida? E como se dá o ciclo da culpa?
Infelizmente, se não houver uma boa elaboração psicológica por parte do ator que, sem intenção, matou a diretora, neste episódio trágico , ele poderá carregar nos ombros e na mente, uma eterna culpa. E a culpa traz uma carga negativa de crenças, afetando todos os pensamentos do indivíduo e influenciando como ele pensa a respeito de si mesmo.
Trazendo para nosso cotidiano, ao invés de buscar alternativas e possibilidades, a culpa faz com que você fique apenas se lamentando e se sentindo mal. Como consequência, o indivíduo não aprende com suas falhas ou fraquezas e pode apenas ficar reproduzindo as mesmas atitudes. É preciso aprender a lidar com essas falhas e aceitar que não somos perfeitos.
Algumas reflexões são importantes. Vamos lá: você deixa de amar alguém apenas porque essa pessoa errou? Tenha em mente que você não é mais aquela criança que tinha que ser perfeita e não podia errar para ser amada: todas as pessoas erram, e nenhum erro é intencional. E qual a diferença entre Culpa e Responsabilidade?
A responsabilidade é uma escolha que traz emoções positivas, faz com que você se perceba como potente, ativo e motivado. A culpa, por sua vez, é uma emoção negativa que paralisa e faz com que você fique voltado para o passado. A culpa surge do anseio à perfeição.
Quanto melhor uma pessoa querer ser, menos ela admitirá erros. Também pode ser compreendida como um delírio de grandeza. Faz com que a pessoa acredite que pode controlar a vida e, quando algo sai de uma forma inesperada, este indivíduo busca respostas para aquela situação e, então, acredita que algo que fez causou o acontecimento ruim.
A culpa é o cultivo e manutenção da sensação de que tudo depende da pessoa e é ocasionado por ela. Aqui que entra o entendimento diferente: A vida acontece e vai acontecer sempre de forma independente. Esse sentimento é a causa de uma série de problemas e não consequência de algo feito.
Uma pessoa não se sente culpada porque fez algo e esta é uma sensação ilusória de poder, de autovalorização, para tentar superar a real condição de insignificância do ser humano. Podemos ir mais além e dizer que a culpa é a não aceitação dos defeitos e erros.
A pessoa que carrega o mundo nas costas, o excesso de culpas, torna-se prisioneira de uma ideia fixa. Deixa de ser quem é para se tornar o crítico de si mesmo. Se o remorso é guardado a coisa torna-se muito pior. Tendo como consequências, desde tratar mal os outros, viver encontrando culpados para tudo, reclamar sempre; como depressão, alcoolismo, vício em drogas e isolamento.
E como virar esse jogo? Enfrentar esse problema? Primeiro temos que identificar o sentimento de grandeza. Perceber que a vida não é controlável e que todos somos humanos e podemos errar sim. Fazer uma análise e conseguir perceber a diferença entre responsabilidade e culpa. Culpa é o sentimento originado da ideia de que as coisas têm que acontecer como a pessoa quer. Responsabilidade é assumir que você é responsável por suas atitudes.
É preciso aprender com o erro, para não cometer de novo. Deixar a raiva passar, colocar pra fora, aprender e entender que os erros acontecem. Procure ter a consciência exata da origem do seu sentimento de culpa. Explore um pouco mais sobre o que gerou em você a culpa.
Comece se perguntando: O que me faz sentir culpa? De não ter sido amado? Ter sido rejeitado, abandonado? Ter acreditado que recebia amor, quando na verdade recebia apenas o que acreditava ser amor? Ter sido vítima de maus tratos e abuso sexual ainda criança? Terem me ocultado a verdade, o que me obrigou a acreditar e conviver com a mentira? De não ter sido amado? Faça uma lista de todas as culpas que você sente, por maior que possa ser a lista, faça! Isso o ajudará a compreender melhor seus sentimentos e conflitos gerados pela culpa.
Analise as situações em que aconteceram os fatos e se você efetivamente tinha condições de agir diferente de como agiu. Depois continue sua análise. Onde, quando e por que começou cada uma delas? Quais são as situações que me sinto culpado pelo que fiz ou deixei de fazer? Quais eram meus valores em relação ao assunto quando agi daquela forma? Se fosse hoje minha atitude seria diferente? Como? Quem fazia ou faz com que eu me culpe? Busque a relação da culpa atual com seu histórico de vida.
O objetivo não é buscar mais culpados, mas explorar os motivos pelos quais ainda se culpa, se responsabilizando pelos seus atos, e mudar o que pode ainda ser mudado, libertando-se desse sentimento que aprisiona e impede o crescimento.
As consequências da culpa são muitas. Na tragédia envolvendo o ator Alec Baldwin a culpa pode se manifestar pelo sentimento de necessidade de cautela excessiva. Passa pela cabeça: se tivesse feito isso ou aquilo, talvez nada disso teria acontecido. Mas essas dúvidas ocorrem porque com a culpa manifestamos a presença da ânsia, ainda que inconsciente, de autopunição.
É certo que a culpa, neste caso, pode ser um sinal de alerta sobre falta de limite, falta de cuidado, falta de inspeções dentro do set de filmagem; ou a indicação que é preciso mudar algum padrão de comportamento ou padrão de trabalho. Mas o mais indicado é saber identificar o que é responsabilidade e o que é culpa. Afinal, apenas olhar como culpa para determinadas situações, apenas alimentará estagnações, repetição de padrões, sem proporcionar mudanças e crescimentos.
Após essa reflexão, faça uma auto análise de como está seu momento em relação às culpas que carrega e quais consequências estas culpas trazem para sua vida. Onde as coisas poderiam ser diferentes se não fossem as chibatadas que você dá em si mesmo e se auto pune para aliviar uma dor inconsciente. Por: Dra. Andréa Ladislau (Psicanalista)/Colabração/Divulgação