No Hospital Mariska Ribeiro, no Rio de Janeiro, o olhar carinhoso vai do início ao fim do contato com a paciente
“Acolher.” Essa foi a resposta de Monique Pinheiro, coordenadora do Serviço Social da Psicologia do Hospital da Mulher Mariska Ribeiro (HMMR), no Rio de Janeiro, ao ser questionada sobre o papel de uma instituição de saúde ao receber uma mulher vítima de violência, seja física ou sexual. E ter o serviço de saúde como um apoio num momento como esse se mostra cada vez mais importante.
Dados da 10ª Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher, realizada pelo Instituto DataSenado, em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência (OMV), e divulgada em fevereiro deste ano, indicam que o Rio de Janeiro está entre os estados com maiores índices de mulheres que declaram ter sofrido violência doméstica ou familiar provocada por homem.
Com entrevistas a 21,7 mil mulheres a partir dos 16 anos, o levantamento nacional mostra que 68% das brasileiras têm uma amiga, familiar ou conhecida que já sofreu violência. Já a percepção de que a violência doméstica aumentou nos últimos 12 meses é majoritária em todo o país (74%), com algumas variações nos estados, segundo a Agência Senado.
Em geral, maternidades/hospitais focados nas mulheres e ligados ao serviço público de saúde são referência em atendimentos de casos de violência sexual, física ou psicológica e seguem orientações do Ministério da Saúde, que servem como base no trato com essas pacientes. Entre as diretrizes estão instruções de como fazer a melhor abordagem sem fazê-las repetir informações dolorosas, a não necessidade de um boletim de ocorrência para esse atendimento e a validação ao que esta mulher diz, ou seja, uma escuta qualificada. A partir disso, cada unidade tem a chance de criar seus próprios protocolos, incluindo etapas e procedimentos.
E é aí onde entra, no Mariska Ribeiro, o acolhimento destacado pela coordenadora Monique, em todas as pontas, desde o primeiro atendimento até o encaminhamento para a rede de saúde básica, já ao final do processo.
“Temos um olhar carinhoso e diferenciado desde o primeiro momento e durante todo o atendimento, que pode durar meses. Há mulheres que chegam ao Mariska e só dizem que precisam de atendimento, nitidamente envergonhadas. As recepcionistas já treinadas fazem a classificação de urgência e o encaminhamento com toda discrição”, diz a coordenadora.
No HMMR, o grande diferencial no serviço prestado a essa mulher é o chamado “seguimento”, também intimamente ligado ao acolhimento já tão comentado nesse texto. É que, além do respeito e do sigilo garantido, inclusive dentro do próprio hospital, o eixo de atendimento médico-psicológico-enfermagem-
Como o próprio nome sugere, o seguimento é justamente a possibilidade de seguir com os atendimentos inicialmente emergenciais, com consultas junto aos ambulatórios dessas especialidades e ao serviço de VVS (Vítima de Violência Sexual) – onde a mulher tem o direito de voltar e ser atendida pela mesma médica.
Mas a “cereja do bolo”, como se costuma dizer, é o apoio ofertado fora dos muros do hospital, com encaminhamentos a outros órgãos municipais para elaboração de documentos, inscrições em cursos, auxílio em vagas de emprego, inscrição em programas governamentais, fazer denúncia, se assim desejar, e até refúgios secretos para garantir o afastamento do/a algoz.
Um exemplo é a Casa da Mulher Carioca, que tem cursos de cabeleireira, cozinheira, trancista e massagista. O intuito é apoiar para que a vida dessa mulher não fique estagnada, o que muitas vezes ocorre, devido ao trauma causado pela violência.
“Nós fazemos todos os acionamentos possíveis em busca do bem-estar físico, emocional e social dessa mulher. Ela segue com o atendimento médico e psicológico pelo tempo necessário e, por nosso olhar de longo prazo, de enxergá-la como um agente importante para a sociedade, também a encaminhamos para outros equipamentos públicos parceiros”, afirma.
Segundo Monique, se a violência vem de um parceiro, é feito um alerta sobre a gravidade dessa situação, mas é a mulher quem toma a decisão de comunicar ou não à autoridade competente.
“Outro ponto importante por aqui é o encorajamento para que essa paciente tenha uma pessoa de sua confiança para que compartilhe a situação e tenha uma aliada na luta pela superação. Nosso objetivo é de que ela saia daqui acreditando no nosso acolhimento, mesmo com todo o desconforto, e temos a sensação de que isso ocorre, na maioria dos casos”, finaliza.
Sobre o Hospital da Mulher Mariska Ribeiro
O Hospital da Mulher Mariska Ribeiro, localizado na zona Oeste do Rio de Janeiro, é um complexo neonatal gerenciado pelo CEJAM – Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim” em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro.
Sobre o CEJAM
O CEJAM – Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim” é uma entidade filantrópica e sem fins lucrativos. Fundada em 1991, a Instituição atua em parceria com prefeituras locais, nas regiões onde atua, ou com o Governo do Estado, no gerenciamento de serviços e programas de saúde nos municípios de São Paulo, Rio de Janeiro, Mogi das Cruzes, Itu, Campinas, Carapicuíba, Franco da Rocha, Guarulhos, Santos, São Roque, Francisco Morato, Ferraz de Vasconcelos, Pariquera-Açu e Itapevi.
Com a missão de ser instrumento transformador da vida das pessoas por meio de ações de promoção, prevenção e assistência à saúde, o CEJAM é considerado uma Instituição de excelência no apoio ao Sistema Único de Saúde (SUS). O seu nome é uma homenagem ao Dr. João Amorim, médico obstetra e um dos fundadores da Instituição.
No ano de 2024, a organização lança a campanha “366 Novos Dias de Cuidado, Amor e Esperança: Transformando Vidas e Construindo um Futuro Sustentável”, reforçando seu compromisso com o bem-estar social, a preservação do meio ambiente e os princípios de ESG (Ambiental, Social e Governança).
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Fonte: Vivian Fiorio – Máquina