Para o cidadão médio comum, entrar para o Guinness Book of World Records, mais conhecido como o “Livro dos Recordes”, é como ganhar um Oscar. O livro se tornou referência mundial ao cobrir todos os tipos de registros sobre o mundo e seus habitantes em termos de curiosidades. Já foi traduzido para mais de 40 idiomas, vendendo uma média de 3,5 milhões de cópias anualmente e mais de 150 milhões ao longo de quase 70 anos de história, o que faz dele um dos livros com direitos autorais mais vendidos de todos os tempos.
E tudo começou como uma brincadeira, quando Hugh Beaver, dono da cervejaria Guinness Brewery, no coração da Irlanda de 1951, entrou em uma discussão sobre se a tarambola-dourada era ou não a ave de caça mais rápida da Europa. Ele chegou a procurar em livros uma resposta completa e clara, mas não encontrou e isso deu-lhe a ideia de criar um.
O atleta Chris Chatway, que trabalhava para Beaver na época, recomendou que ele procurasse os gêmeos Norris e Ross McWhirter, jornalistas esportivos autodidatas fascinados por quebra de recordes e curiosidades em geral. Eles aceitaram a ideia e, como resultado, em 27 de agosto de 1955, foi publicado o The Guinness Book of Records em uma edição com 198 páginas e cerca de 4 mil curiosidades e recordes que foram curados e checados pelos irmãos. O livro se tornou um best-seller na Inglaterra em apenas quatro meses.
A ampla popularidade do livro, de certa forma, encorajou os leitores a estabelecerem novos recordes próprios em vários campos. Com o passar do tempo, o crescimento do Guinness “saiu” de controle e seu objetivo foi transformado.
Essa é a verdade por trás da história do Guinnes World Records.
Segundo o próprio Guinness, algumas pessoas estabelecem como meta entrar para o livro porque essa é uma maneira de nos medirmos. Conhecer “o maior, o menor, o mais rápido, o mais e o menos” ajuda o ser humano a entender sua posição no mundo e como se encaixa na estrutura social das coisas.
“Todo mundo quer ser famoso. E, de certa forma, embora eu não ache que você realmente se torne famoso, pela percepção do recordista é uma maneira de ser imortalizado”, disse Larry Olmsted, que já apareceu duas vezes no Guinness por jogar pôquer por 72 horas consecutivas, em entrevista à VOA Learning English.
Para os interessados em quebrar um recorde, existe uma aba no site do Guinness chamada “Set a Record”, em que fica claro que o recorde deve ser demonstrável, quantificável e quebrável. A edição ouve milhares de pessoas por ano que querem estabelecer um recorde e os funcionários levam mais de um mês para decidir se aceitarão uma tentativa de quebra de recorde, rejeitando cerca de 80% dos pedidos.
Quando aceitam uma proposta, enviam instruções detalhadas sobre como confirmar que um registro foi definido. Em alguns casos, avaliadores do Guinness podem testemunhar o recorde, mas, na maioria das vezes, o concorrente precisa registrar uma dupla de testemunhas imparciais. A tentativa de quebra de recorde deve acontecer em local público, e fotografias e reportagens devem ajudar a provar ao Guinness que um novo recorde foi estabelecido.
O que o Guinness tem feito é o mesmo papel que o Ripley’s Believe It or Not!, um portal de curiosidades que passou a se declarar uma enciclopédia como parte de uma estratégia de marketing. Ambos nunca foram uma autoridade em nada que publicaram, tampouco foram formal e legalmente reconhecidos assim, diferentemente do que acontece com a World Athletics, um órgão internacional que rege o atletismo e seus recordes.
O que aconteceu para que o Guinness World Records adquirisse uma reputação sólida a ponto de parecer até um órgão governamental fact cheker do absurdo foi um bom posicionamento de marca, da mesma forma que lojas de fast fashion, como a Zara, passam aos seus consumidores a ideia de que estão consumindo algo requintado e caro, quando, na verdade, não estão.
Fonte: Mega.com