Fogos no reveillon na Praia de Icaraí -

Foto/Divulgação

Artefatos da festa tem menos da metade dos decibéis de fogos tradicionais; barulho é menor do que o de um liquidificador

A festa de réveillon na Praia de Icaraí contará com um show pirotécnico de baixo estampido. Os fogos de artifício usados na cidade são de apenas 65 decibéis, o equivalente menos da metade do ruído de espetáculos tradicionais do tipo – quando o barulho das explosões no céu pode chegar a um nível de 160 decibéis.

O ruído da queima de fogos em Niterói pode ser comparado a uma conversa em um ambiente mais barulhento, e os decibéis estão bem abaixo do que os gerados por uma furadeira e até mesmo por um liquidificador ou secador de cabelo. Os artefatos de baixo estampido atendem à preocupação com idosos e pessoas com sensibilidade a sons, além dos animais.

E, em Niterói, a lei municipal nº 3.684 proíbe o manuseio, a utilização, a queima e a soltura de fogos de estampidos e de artifícios, assim como de quaisquer artefatos pirotécnicos de efeito sonoro ruidoso no município, seja em áreas públicas ou locais privados. O objetivo é  evitar danos substanciais à saúde e vida humana e animal e ao meio ambiente urbano e rural. No Senado, tramita um projeto de lei semelhante, que se aprovado valerá para todo o país.

“Pelo segundo ano consecutivo a gente vai usar fogos de baixo estampido no réveillon. Sabemos da importância dos fogos para essa celebração, mas é importante observar o bem-estar de pessoas que não estarão na praia e que podem ser afetadas pelo barulho. Então, vamos trabalhar com fogos de até 65 decibéis, e essa medição representa menos que um liquidificador ligado na nossa casa. É um barulho que a gente considera baixo, mas que a gente espera que possa ser reduzido ainda mais com o avanço da tecnologia nessa área”, afirma o presidente da Niterói Empresa de Lazer e Turismo (Neltur), André Bento.

Ele diz esperar que esse limite nas festas de reveillon possa ser replicado para outras cidades do país:

“Temos uma população festeira, mas temos que preservar as  pessoas acamadas e nos hospitais, os idosos, as crianças, incluindo as com transtorno do espectro autista, e os animais. A celebração tem que ser boa para todos, é preciso pensar na coletividade”.

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Queima terá duração de 15 minutos

A festa da virada na cidade tem como tema “Réveillon Niterói 450 anos – O Futuro é agora”. O show de luzes no céu de Icaraí terá duração de 15 minutos e inclui cinco balsas de artefatos no mar. É esperado um público de 250 mil pessoas. Quem for a Icaraí será brindado com  fogos no formato de borboletas e girassóis, e no final será formado um grande arco-íris para saudar a chegada de 2024.

No total, serão cerca de duas toneladas de fogos de artifício em cinco pontos da cidade. Além de Icaraí, haverá queima de fogos na Praia de Itaipu, em Santa Rosa, no Fonseca e no Caramujo.

Alívio para quem sofre com barulho
Especialista em ruídos, o engenheiro e perito David Gurevitz explica que o barulho dos fogos se equipara ao de aviões e causa incômodo semelhante aos de outros produzidos pela atividade urbana.
“Fogos com explosão chegam a níveis semelhantes ao da decolagem de avião a jato. Mas 65 decibéis é um ruído baixo para cidade grande. Um ônibus ou moto passando pode produzir ruídos bem acima disso. Em túneis do Rio, eles ficam bem acima de 80 decibéis. Um bar cheio produz ruídos de mais de 90 decibéis”, compara Gurevitz.
Para pessoas com hipersensibilidade auditiva e animais de estimação, o barulho dos fogos pode causar ainda mais mal estar. A enfermeira Lilian Carvalho é mãe da pequena Alice de 8 anos que é autista. Ela diz que tem dificuldades em sair com a filha na noite de réveillon.
“Desde que percebemos que incomodava demais ficar na rua com o barulho, evitamos sair. A gente praticamente se isola dentro de casa, fecha as cortinas, as janelas, coloca alguma música e tenta não se concentrar lá fora. Esperamos que passe logo esses 10, 15 minutos de queima de fogos. Alguns anos atrás, mesmo antes da tal queima de fogos, à meia-noite, a Alice pedia para usar os abafadores de ruído. Ela passa praticamente o dia inteiro usando. Mesmo assim ela se assustava, ainda ficava nervosa, mas com menos transtorno do que sem abafador”, conta Lilian.
As mudanças do show pirotécnico para fogos de baixo estampido em Niterói, onde mora, é comemorada por Lilian. Ela lembra que, junto a outras mães, nos últimos anos, buscaram chamar a atenção para o problema.
O fogos de baixo estampido em Niterói é fruto de uma mobilização coletiva, um projeto do qual eu faço parte, de mães atípicas que puxaram essa discussão, para que as pessoas optem por esse tipo de fogos, ou sem estampido, ou de baixo estampido, pensando no conforto dos autistas, animais, domésticos, crianças, bebês, idosos, e aí a gente vai ter um réveillon bom pra todo mundo, ninguém vai estar excluído dessa festa. A prefeitura ter encampado essa ideia foi uma grande conquista”, considera Lilian.

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