Projeto Cidade Ilustrada e restauração da Igreja Matriz resgatam história anterior à emancipação política
São Gonçalo completa nesta quarta-feira, 6 de abril, 443 anos de fundação, e a valiosa história da cidade, desde os primórdios, está sendo relatada em um “museu a céu aberto” através de pinturas de grafite nas paredes dos viadutos, no projeto Cidade Ilustrada. A Igreja Matriz, patrimônio simbólico da cidade, também passa por obras de restauração que resgatam a memória dos tempos da fundação da região.
Foi em 6 de abril de 1579 que o colonizador Gonçalo Gonçalves conseguiu pela sesmaria, através do governador da Capitania do Rio de Janeiro, uma grande extensão de terra na região do Centro, Gradim, passando por Itaoca. Seu dever era construir uma capela e um povoado no período de três anos. No Centro, o nobre Gonçalo Gonçalves construiu a Capela São Gonçalo do Amarante, em homenagem ao padroeiro de sua cidade natal, em Portugal.
Ao longo dos séculos, o progresso econômico atingiria proporções maiores e, ao lado das fazendas, não eram poucos os engenhos de açúcar e aguardente, da mesma forma que prosperavam as lavouras de mandioca, feijão, milho e arroz. O comércio desenvolvia-se na mesma proporção das atividades agrícolas, e as dezenas de barcos de transporte de gêneros e passageiros davam maior movimento ao litoral, em constante intercâmbio com outros portos das diversas freguesias e com os do Rio de Janeiro.
Até que em 22 de setembro de 1890, o Distrito de São Gonçalo é emancipado politicamente e desmembrado de Niterói. Em 1892, o decreto nº 1, de 8 de maio, suprime o município de São Gonçalo, reincorporando-o a Niterói por sete meses. Finalmente, em 1929, a Lei nº 2335, de 27 de dezembro, concede a categoria de cidade ao município.
Uma parte da história da cidade está sendo contada por meio de painéis de grafites – através de um projeto idealizado pelo próprio prefeito Capitão Nelson, com curadoria do artista plástico Marcelo Eco e desenvolvimento de grafiteiros da cidade – que remonta à história da localidade exaltando os tamoios, a vegetação, animais nativos, a origem do bairro do Alcântara, com o porto, estação de trem, o desenvolvimento da cidade, indústria, cana de açúcar, bonde elétrico e tudo que remete ao crescimento econômico. O projeto é coordenado pela Secretaria de Turismo e Cultura, com apoio financeiro da Secretaria de Meio Ambiente, por meio de recursos oriundos de compensações ambientais.
Importante patrimônio simbólico da cidade, a Igreja Matriz de São Gonçalo, como é popularmente conhecida, está passando por obras de restauração que visam “edificar a identidade do povo gonçalense”, de acordo com as palavras citadas pelo padre André Luis Siqueira, responsável pelo templo religioso, com reparos feitos conforme as temporalidades presentes na construção e nas ampliações ocorridas ao longo dos dois últimos séculos.
“O projeto visa se inspirar na história para poder harmonizar a igreja. A obra não é só pela igreja, é uma obra de cultura, história e identidade do povo. Não é apenas uma simples restauração, é uma recuperação da história da igreja, da cidade, uma busca pela identificação da população”, declarou padre André.
Para a reparação do templo – que carrega o título de ser a primeira paróquia do estado do Rio de Janeiro fora da capital -, foram criadas duas equipes para atuação: uma de estudiosos de História, doutorandos, mestrandos e graduados; e outra com técnicos em Arquitetura e Engenharia. Atualmente, a obra está focada na parte interna, onde será restaurado o retábulo principal, reconstruído uma parte da igreja que abriga os retábulos laterais, pisos, forros, iluminação, pintura, além da recuperação da fachada, que deve ser a última etapa da obra, pois necessita de um planejamento com parcerias econômicas. Os detalhes da restauração estão no livro “Igreja Matriz de São Gonçalo – Histórias e ações de recuperação de um patrimônio coletivo”.
“Durante toda a obra buscamos procurar elementos que possam ser integrados à história da igreja”, explicou o pároco.